MINHA CIDADE – para Alda Cabral
Recife flutua
suspenso
na linha equívoca
da água.
Agora, dono
de nova suspensão,
foi interrompido
por esperas
cheias de cautelas.
Seus viadutos
espelham sua face:
morto concreto levantado
com seus porões
de desabrigo e abandono,
lar dos que
a pressa dos carros não vê.
O trânsito
foi anulado:
nenhum transeunte
de um desamparo a outro;
nas pontes
nenhuma ligação.
Recife foi redesenhado
pelo vazio,
e as sirenes
falam a língua
dessa nova aflição.
A solidão
própria de toda cidade
se redobra,
e os rios
choram a prisão
de suas margens.
Suspensa
a anestesia da pressa,
a ferida da injustiça
arde sem remédio.
Recife encontrará
de novo seu tempo
que flui
entre praças
e ruas desertas:
sabe que
o presente e o futuro,
um pelo outro é cerzido.
Voltado às auroras,
entenderá
que se nasce
para recomeçar
a cura do talho.
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