Da arte de ter um blog - 2
Em janeiro de 2008, escrevi uma crônica sobre a
arte de ter um blog, meio que respondendo a questões colocadas sobre este
espaço, o Trança. Convido meus
atuais leitores a visitarem essa postagem e, depois, voltarem ao texto de hoje,
para que se certifiquem do que pretendo e de onde partiu a iniciativa de abrir
este “sítio”, em que, uma vez por mês, escrevo poemas, resenhas e crônicas.
A internet é, sem dúvida, muito democrática:
provavelmente, uma autora como eu jamais publicará textos em jornais e revistas
de grande circulação. Mesmo livros, por seu preço em edições “free-lancers” e
por dificuldades de inserção no mercado, também são, para mim, algo pouco
acessível. Mas, graças às tecnologias de comunicação atuais, posso disponibilizar
aqui o que penso, sinto e vejo.
É claro que isso qualquer pessoa pode
fazer; vem dessa virtualidade a fama de que a internet tudo pode ou nela tudo é
possível. Infelizmente, como tudo que é nosso, a internet tem os nossos
limites, para o bem e para o mal: aqui pode escrever quem tem o que dizer e não
teria onde, quem não tem o que dizer e quem espalha preconceito e até crime.
À pessoa que tem acessado esta página,
escondendo-se de “anônima”, e tem me acusado de pouco democrática, por ter
excluído comentários de sua autoria, esclareço que democracia não significa
invasão do espaço do outro, nem desrespeito a ele, mas exatamente o contrário:
é saber viver na diversidade e, ao mesmo tempo, no respeito; é saber portar-se
diante do outro, do mesmo jeito como gostaria que o outro se portasse diante de
si mesmo; é lutar pelo direito que o outro tem de expressar-se, mesmo quando
ele emite ideias diferentes das suas; é saber respeitar o outro e seu espaço,
seja ele qual for.
Este “site” não é lugar para se atacar meu
trabalho de professora – é uma trança, ou seja, lê-se o que escrevo e se
escreve um comentário sobre o texto lido.
O mecanismo de exclusão de comentários,
felizmente, existe, e eu tenho o direito de lançar mão dele, se alguém usa este
espaço para me desqualificar ou para me atingir profissionalmente, ações que,
às vezes, são motivadas por concorrência profissional espúria e antiética, que,
frequentemente, tem lugar no capitalismo.
Há, socialmente, outros locais em que
isso pode ser feito, como a urna do curso onde trabalho, na qual críticas,
sugestões e comentários podem ser colocados. A internet é tão fabulosa que,
inclusive, a pessoa pode abrir uma página para destratar meus textos (é a ideia
que dou), ou mesmo minhas aulas, ela tem esse direito. Nesse caso, ela teria
que identificar-se, e, democraticamente, eu poderia, por meios legais, me
defender. Eu também tenho esse direito.
Mas aqui, não; este lugar é minha propriedade.
E excluirei comentários desrespeitosos e confusos quantas vezes o invasor o
fizer. Aliás, se ele não gosta de mim, não há por que ler o que escrevo ou
saber o que faço ou penso. Ninguém é obrigado a entrar nesta página. Preferiria
que meus inimigos não maculassem com inveja, provocação, competição, anonimato
(e outros substantivos horríveis que não me ocorrem) o objetivo puro e humano
que me levou a abri-la e que me motiva a alimentá-la.
Sem dúvida, quem vem invadindo com desrespeito
e covardia este espaço não compreende as palavras “humano”, “puro” e
“democracia”, nem age de forma construtiva na sociedade. Espero, com força, que
não se trate de um professor, ser cuja ação se multiplica para o bem e para o
mal, como tudo o mais que fazemos, nós, seres humanos.
Portanto, confirmo
aqui minha liberdade de expressão, que entendo também como ação cidadã e
espiritual responsável e esclareço que continuarei a excluir comentários
covardes que, ao contrário, denigrem a democracia e desrespeitam o esforço
histórico que eu e tantos outros temos cumprido para aperfeiçoá-la.
2 Comments:
Ratifico suas palavras. Acho muito estranho o comportamento desses que tem "a coragem" de expor o que pensam, mas que covardemente omitem a identidade. Parece-me que essas criaturas não se apossaram do real sentido da palavra democracia. Democracia é, também, aceitar o fato de o outro não aceitar sua opinião. É, em última instância, uma coisa tão boa que nós estaremos sempre aquém dela, mas (pegando carona noutro texto de sua autoria) "nos tornamos humanos quando incessantemente a buscamos."
Um beijo, Gabriel
Professora Flávia, é por isso que sempre volto aqui. Além da garantida boa leitura, são pouquíssimos nessa enorme internet os que conseguem fazer um texto de indignação com a elegância com que você o faz. Faço uso dessa ferramenta blog pelas mesmas razões que você, por acreditar que tenho alguma coisa a dizer e achá-la valorosa o suficiente para compartilhar com outros, não tendo acesso a mídia e editoras. Não se incomode demais com a ditadura da mediocridade, tenha certeza que há leitores fiéis, como eu, ávidos por ler o que você tem a dizer.
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