Passeio pela Literatura - 5
Além das
questões estilísticas e do fato de ser de difícil classificação, “O Ateneu”
impressiona pela simbologia que constrói: lança mão das possibilidades da
figuração linguística, recurso central da linguagem literária, e cria uma
metonímia: o colégio, na verdade, é a sociedade brasileira do período.
Raul Pompeia era republicano
jacobino − ou radical −, num momento de nossa História muito específico: fez a
difícil defesa de Floriano Peixoto, mesmo quando amigos seus atacavam o então presidente depois de seu
questionável comportamento contra os participantes da Revolta da Armada;
inclusive, foi de Raul Pompeia o discurso no dia do enterro de Floriano
Peixoto, que tanto estremeceu a governabilidade e que foi, no dia seguinte,
comentado no artigo de opinião “Um louco no cemitério”, de Luís Murat. A
impossibilidade de publicação de uma réplica e esses embates fragilizaram muito
o autor e o deixaram muito só, circunstâncias que terminaram pavimentando seu
caminho em direção ao suicídio.
O debate político, nessa época,
refletia a violência central do sistema: era marcado não só por ofensas,
assassinatos e duelos, mas por demandas de virilidade de toda sorte,
potencializadas pelo conceito fechado de honra.
Pois bem: na obra, o colégio Ateneu
simboliza a Monarquia – a Princesa Isabel vinha entregar os prêmios, o diretor
Aristarco tem um nome cuja raiz remete à palavra “aristocracia”, as relações de
poder se exerciam dentro de uma hierarquia absurda... E Sérgio, o personagem
narrador, que não deixa de ser uma projeção do autor, exultou quando o aluno
Américo incendiou o colégio e fugiu. Aliás, o nome do incendiário tem um
sentido na obra, pois fortifica a oposição Europa/Monarquia versus América/República, dando ao
último par uma aura de renovação a partir das cinzas do primeiro.
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