quarta-feira, abril 20, 2016

Passeio pela Literatura - 5

            Além das questões estilísticas e do fato de ser de difícil classificação, “O Ateneu” impressiona pela simbologia que constrói: lança mão das possibilidades da figuração linguística, recurso central da linguagem literária, e cria uma metonímia: o colégio, na verdade, é a sociedade brasileira do período.
            Raul Pompeia era republicano jacobino − ou radical −, num momento de nossa História muito específico: fez a difícil defesa de Floriano Peixoto, mesmo quando amigos  seus atacavam o então presidente depois de seu questionável comportamento contra os participantes da Revolta da Armada; inclusive, foi de Raul Pompeia o discurso no dia do enterro de Floriano Peixoto, que tanto estremeceu a governabilidade e que foi, no dia seguinte, comentado no artigo de opinião “Um louco no cemitério”, de Luís Murat. A impossibilidade de publicação de uma réplica e esses embates fragilizaram muito o autor e o deixaram muito só, circunstâncias que terminaram pavimentando seu caminho em direção ao suicídio.
            O debate político, nessa época, refletia a violência central do sistema: era marcado não só por ofensas, assassinatos e duelos, mas por demandas de virilidade de toda sorte, potencializadas pelo conceito fechado de honra.
            Pois bem: na obra, o colégio Ateneu simboliza a Monarquia – a Princesa Isabel vinha entregar os prêmios, o diretor Aristarco tem um nome cuja raiz remete à palavra “aristocracia”, as relações de poder se exerciam dentro de uma hierarquia absurda... E Sérgio, o personagem narrador, que não deixa de ser uma projeção do autor, exultou quando o aluno Américo incendiou o colégio e fugiu. Aliás, o nome do incendiário tem um sentido na obra, pois fortifica a oposição Europa/Monarquia versus América/República, dando ao último par uma aura de renovação a partir das cinzas do primeiro.