Máquina do mundo – a Francisco Torres Martins
I
Talvez exultasse inocente...
Se não dissesses breve
meu pequeno endereço;
Se não dissesses rápida
minha única viagem;
Se não dissesses demorado
o pó que me espera;
Se não dissesses teimosa
a prisão a que me obrigas;
Se não dissesses impossível
a exatidão do meu motivo;
Se não dissesses repetido
o atraso dos ponteiros;
Se não dissesses distante
a hora de justiça;
Se não dissesses pequena
minha palavra de cristal.
Talvez exultasse inocente...
Se não soubesse quebrado
teu mecanismo carcerado;
Se não soubesse insolúvel
teu hermético defeito;
Se não soubesse impotente
minha vida acorrentada;
Se não soubesse culpado
meu gesto agregado;
Se não soubesse inútil
minha voz comprometida;
Se não soubesse transitória
minha roupa necessária;
Se não soubesse difícil
meu lugar sozinho;
Se não soubesse horrível
meu caminho desviado;
Se não soubesse grande
meu serviço minúsculo.
II
Minha vingança?
Sei
teu peso bruto
teu defeito suplicante
tua armação insondável.
Minha vingança?
Não fui sina
cumprida sem pergunta.
Minha vingança?
Não compactuei
com teu silêncio condenado.
Minha vingança?
Sonhei
com um minuto diferente.
Minha vingança?
Conheci
meu destino previsível.
Minha vingança?
Recebo esse salário
que ninguém mais quer.
Pago com ele
o preço alto de minha vida.
E, feliz, não deixarei
fugir o pássaro raro
que peguei!
3 Comments:
Adorei o poema, como esperava adorar! Sentido, sofrido, sincero -e belo, belo!
Beijo,
Adriana
Adriana querida:
Que bom que Deus resolveu cruzar nossas vidas! E justo quando estou precisando de consolo e companhia!
Obrigada por tudo! Beijos,
Flávia
PS: Gostar de você é mesmo destino de sangue, não é?
Querida,
Um destino que me orgulha tanto... Também agradeço a Deus pelas nossas aulas - a confirmação de que trabalho e prazer podem viver juntos e felizes.
Beijo imenso,
Adriana
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