sábado, setembro 02, 2006

Jogo de trevas

DAS CENAS OU UM OBSERVADOR MISTERIOSO E INEXISTENTE

VI

Nem sabia quem ali o trouxera à enfermeira. Tinha pena, então, dobrada por nada ter consigo e por estar ali sozinho, entregue à inconsciência e à solidão. O médico dissera algo como “dose excessiva”, mas, para sua inexperiência, isso nada significava. E tudo junto fez com que ela desvelasse o doente de maneira incomum: havia nas feições do rapaz uma carência total de esperança e o seu desespero diante do que ele chamava de “fantasmas da arte” e da imagem de uma mulher era tanto que causava pena enorme.
Não chamava nomes. Chorava muito, no entanto, quando evocava o nome de Deus. Pedia paz a todo instante. E a Ele implorava que a mulher ouvisse os seus gritos angustiados e o viesse salvar do inferno em que caíra. Blasfemava a todo instante e desdenhava dos cuidados da enfermeira, dizendo que só a mulher o poderia salvar.