sexta-feira, abril 30, 2010

Babel

Minha boca ensaia
uma palavra pura.
Ela resolveria tudo,
seria uma aurora frágil
inconteste, entretanto,
na extremidade do túnel.

Uma noite responde
seu vocábulo obsceno:
a escuridão se derrama
apaga a manhã começada
anula o princípio possível.
Nas trincheiras
só restam ausências
e um ruído surdo
de terror
que tudo impede.
A ordem da vida
continua a mesma:
desespero vão
solidão amarga.

Olho o relógio inútil
e espero muito calada
um tempo de interlocução
longe e fora das horas.

Para sobreviver
penso em quem chegará
para afagar minha boca
e poupar meu esforço.

Seus olhos adivinharão
a palavra escondida
como uma luz enterrada.

Esse gesto esboçado...
Posso parar de tentar...

Mas esse milagre doce
não se articula nunca...


Para Hugo, que resume os que compreendem minha luz enterrada e por quem vale a pena continuar tentando, apesar da exaustão.

14 Comments:

At 4:19 PM, Blogger Unknown said...

preciso admitir que tenho uma inveja terrível de quem domina a linguagem poética!

muito bom, Flávia! =)

 
At 11:25 PM, Anonymous Anônimo said...

Flávia
que coisa mais liiiiinnnnda !!!!!!!!
Muito mais que linda !!!Adorei !!!!
Ro

 
At 11:42 AM, Blogger Unknown said...

Flávia, o teu poema esquadrinhou o meu coração. Conter a emoção diante dele se faz, para mim, tarefa difícil. Ele me pegou de jeito porque é a leitura do que tenho sentido. Leste o meu coração, minha querida! Eu te entendo, Flavinha, porque também sinto tudo isso.

Mais uma vez, minha amiga, mostraste com maestria como se traduz sentimentos e alma em palavras. Eu precisaria criar um adjetivo para qualificar merecidamente a beleza de tuas palavras.

São palavras lindas como tu és!
Amo-te ainda mais por isso!

 
At 1:02 PM, Blogger Unknown said...

Estou sem palavras, Flávia! A palavra que resuma tudo depende de tantas outras precisas.

Beijos

 
At 7:49 PM, Blogger u said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 6:59 PM, Anonymous Anônimo said...

Definitivamente, faz bem ler o que você escreve Flávia.

Voltando ao seu texto:
Parece muito difícil que alguém te entenda tão bem que você não precise dizer mais nada nem se angustiar mais.

Talvez você possa escrever, dizer o que você queria que fosse calado e estendido ao mesmo tempo.

Eu espero que você consiga escrever, falta de palavras não te prende. Gostaria de ler, mesmo.

Marina R (pré ideia)

 
At 3:54 PM, Anonymous Deco - neto de Graça said...

Comentei o poema com minha avó e cheguei a essa (in)conclusão:

Talvez "BABEL", como uma lembrança no exílio, uma vaga lembrança desse mítico tempo em que todos falávamos uma só e mesma língua? Parece que depois da Torre de Babel só o que há é desentendimento e dificuldade de comunicação. Talvez só em BABEL possamos encontrar "a palavra escondida/como luz enterrada", por ser a língua-mãe de todas as línguas... conjeturas, é só o que nós leitores podemos fazer, posto que a pena imposta pelo exílio de Babel é severa: nunca mais nos conhecermos verdadeiramente, e talvez a poesia mesma seja uma tentativa de volta a Babel, uma luta nesse sentido? Tantos talvezes...

 
At 8:28 PM, Anonymous Anônimo said...

Flavia.

Saudade enorme de você.

Luis Manoel Siqueira

 
At 10:27 PM, Anonymous marina (uma aí) said...

uma postagem em branco, queria fazer uma postagem em branco.
pensamentos parecem egoístas, algumas pessoas parecem insensíveis, alguns copos estão vazios mas cheios de ar.
as nuvens são exemplos de relatividade, a mãe é um exemplo de certeza e o resto de vinho, de cravo.
o corpo morre, os pássaros voam e a energia se transforma ou dissipa, o barulho de alguém vindo constrange, o assobio varre.
a gota da pia pinga, a garganta coça e a lembrança é disfarçada.
o fim do livro se aproxima, o egoísmo pensa, insensibilidade parece pessoal, o ar está enchendo o copo.
a nuvem relativiza, a certeza da mãe, o cravo adocica o vinho.
a morte é corpórea, o vôo tem como passageiro o vento e transforma energicamente o barulho em alguém vindo.
o constrangimento é varrido pelo vôo do assobio.
pinga a pia em cima da gota e a garganta é coçada, o disfarce é o lembrar.

fiz faz uns meses, mas quando li, pensei em você.

Marina, a que você não vai saber quem é, do pré idéia.

 
At 9:37 PM, Blogger AsaladaMista said...

Que lindo, Flávia! *-*
Seu textos são incríveis. Eu fico babando neles. Dá vontade de aplauir quando você lê algum na aula. Esse poema então, é maravilhoso.

parabéns, mil vezes :*

 
At 6:17 PM, Blogger Tulle n jazz said...

flávia, que coisa mais liiiinda!
adorei seu blog, adorei suas palavras.

tudo de bom.

Uana - aluna do ideia (:

 
At 5:18 PM, Anonymous Anônimo said...

Magnólia, o filme.
Wise up, Aimee Mann(música que é tocada no filme).

(Marina Ribas, a mesma)

 
At 6:13 PM, Anonymous Anônimo said...

divulgando

Oficina Literária e Produção de Mídia

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Escrita Criativa · Roteiro Cinema/TV · Técnicas de Redação

O nome inventextos apareceu primeiro no blog Machina Incognita, como título e tema de um post sobre autores-inventores e seus textos engenhosos [clique aqui para ler o post]… nascia então, a partir desse nome, o conceito-semente deste projeto que, em tempo, não pretenderá substituir as instituições de ensino regulamentadas pelo Ministério da Educação do Brasil (que emitem títulos oficiais de graduação dos cursos oferecidos), porém, isto sim, buscará transmitir vivências, métodos e técnicas que têm sua origem em minha lida permanente com a criação de textos para diversos meios, bem como as experiências de meus colaboradores eventuais.

i.n.v.e.n.t.e.x.t.o.s [Oficina Literária e Produção de Mídia], com seu formato de acompanhamento personalizado, está dirigida a estudantes, profissionais, e demais pessoas que se dedicam ou aspiram dedicar-se a uma atividade constante (principal, secundária, ou mesmo paralela) nos campos da Narrativa (romance, novela, conto), Propaganda e Publicidade, Roteiro de Cinema/TV, Jornalismo de Opinião, RR.PP., Assessoria de Imprensa, dentre outros ligados à produção de conteúdo primordialmente em forma de texto.

Oferecemos cursos regulares em 3 grandes áreas:

Escrita Criativa · Roteiro Cinema/TV · Técnicas de Redação; em grupos de no máximo 9 assistentes, com 2 aulas semanais (duração de cada aula: 60 mins.); Complementa nosso método o acompanhamento de atividades e exercícios empregando as ferramentas que dispomos na Internet: blogs e Google Wave®; e os workshops.

Nossa missão: estimular um ambiente de colaboração produtiva entre pessoas, mediante o emprego de dinâmicas focadas na produção de ideias originais, de modo que cada participante possa descobrir e explorar meios de expressão e comunicação eficazes, desenvolver potencialidades, e, inclusive, posicionar-se melhor no mercado de trabalho.

Expressar-se de forma apropriada, em cada momento, será sempre um diferencial e fará de você uma melhor pessoa. Sempre.

Sejam bem-vindos,

Pihba Cavalcanti

(Silvio C. Cavalcanti de Araújo)

Diretor



WordPress: Machina Incognita

Twitter: pihbacavalcanti

 
At 6:49 PM, Anonymous Anônimo said...

Que legallllllllll, Flávia, vc é mil, vou estudar bem muitão para ser grande como vc.Amei seus comentários sobre as obras e já tive uma ideia legal para uma aula, kkkkkkkkkkk, só poderia ser! Vou fazer assim:Usarei sua reflexão final no comentário do "Quinze", faremos um belo debate, depois eu proponho lermos o quinze, depois voltaremos para outro debate e no final concluo com sua análise e reflexão. Vejamos como esse novelo irá se desenrolar, te darei notícia!
PARABÉNS,PARABÉNS, PARABÉNS!

 

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