"Meu pé esquerdo", de Noel Pearson
“Meu pé esquerdo” é um filme de 1989, baseado numa história real. Por algum motivo que não consigo recuperar, não o tinha visto ainda, mas meus compromissos profissionais terminaram por me forçar a assistir a ele.
O protagonista é Christy Brown, que sofreu um acidente no parto, provavelmente anoxia, o que resultou na chamada paralisia cerebral, condição de dificuldade física variável decorrente da falta de oxigênio momentânea que pode deixar sequelas simples ou profundas. No caso, a única parte de seu corpo governável era o pé esquerdo – daí o título do filme que conta a sua história, desde sua infância até a idade adulta, quando se tornou autônomo do ponto de vista não só psicológico, mas também econômico, exercendo a profissão de escritor e artista plástico.
É um filme sobre a suplantação de dificuldades extremas, e isso sempre nos toca e mobiliza, pois nos faz ver como nossa vida é fácil e como carregamos fardos descartáveis no caminho.
A história parece triste, mas não é; é, sim, uma narrativa sobre a vida, sobre ferramentas e finais felizes. É que alguns de nós vêm com muitas ferramentas e outros, com poucas. E o que fazemos com elas é o que importa.
O protagonista fez a jornada com poucas ferramentas, algumas quebradas, mas cumpriu-a com êxito. Apesar dos percalços, nasceu, cresceu, amadureceu e ficou autônomo, psicológica e economicamente. Soube receber ajuda, ajudou, amou e foi amado.
Inicialmente sua mãe (e sua família difícil, como todas, e funcional, como algumas), depois sua médica e, infere-se, sua esposa estiveram ao seu lado, sem desistir, amando-o, incentivando-o, falando, escutando, brigando...
Penso, a partir dessa narrativa, na pluralidade, em suas dificuldades, seus desafios; o que concluo é o triunfo do espírito.
Eles sempre vieram, os diferentes. E multiplicaram em alguns a capacidade de amar. Em outros, a capacidade de odiar. Hoje têm ao seu lado leis que lhes garantem direitos, e tratamentos e tecnologias que lhes asseguram condições melhores de vida. Mas são mais lentos, mais dependentes, mais incapazes, mais deficientes. O que fazemos com isso também importa. E muito.
Vêm... Alguns iluminam o mundo, outros escurecem... Vêm... Alguns os consideram dádiva... Outros, castigo... Vêm para nos lembrar de nossos defeitos e impotências? Ou para não esquecermos que cuidamos uns dos outros, em última instância?
No filme, Christy Brown desacata Platão, mas uma história como a dele confirma a minha certeza de que há algo além da caverna, apesar de não desconfiarmos do que seja.
A Filipe, meu filho, que caminha ao meu lado com o seu pé esquerdo.
13 Comments:
Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.
Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.
Flavia, essa letra é de Lenine. Como eu não tinha seu email, decidi te mostrar por aqui... olha q lindo!!!!!
Saudades de vc
Flavia, demorei mas entre no seu blog, li sua última postagem sobre o "Pé Esquerdo" e concordo com tudo que voce diz, Afinal Daniel Day Lewis trabalha magnanimamente nesse filme e é ótimo saber que alguem, apesar do tempo, ainda o assiste.
Aproveite tambem pra acessar o meu blog "HTTP://RUBENSMELLOPSICOLOGIA.BLOGSPOT.COM " faça suas contribuições.
Abração
Rubens de Mello
Muito lindo Flavinha. Adorei a sua crítica do filme e a analogia com a nossa vida cotidiana. BEIJOS
Acho que é essa mania de esperar que as coisas sejam de um jeito determinado é que faz a gente sofrer. Difícil é, exatamente, utilizarmos das ferramentas que temos para construir ou até modificar alguma coisa. Na verdade, esse "difícil" acaba por se tornar fácil quando não adiamos a nossa atitude, a nossa decisåo de ser feliz. Felicidade - graças a Deus - é de dentro pra fora. =)
Flávia, acho que vc pode gostar desses blogs:
www.berenicevaialua.blogspot.com
www.dobrandosinos.blogspot.com
http://blogs.estadao.com.br/antonio-prata/
O primeiro é de poesias, o segundo é de contos e o terceiro é do filho de Mário Prata. Ele tem umas cronicas mt boas!
Um beijo
Amanda
Olá Flavia!
Extremamente pertinente sua colocação sobre as "ferramentas". No filme aprendi muito com o Daniel Day Lewis e sua interpretação. Não me esqueço até hoje a cena em que ele bate um penalti, no futebol. Coloquei seu link em meus favoritos.
Até breve!
Nelson Frediano Junior
Lindo! Falo pelas poucas ferramentas que consigo fazer funcinar na minha vida.
Flávia querida,
Felicidade enorme encontrá-la mesmo que virtualmente e com uma pontinha de receio... Será que ela se lembrará de mim? Será que ela lerá esse comentário misturado num rio de palavras?
Pois é. Sou uma antiga aluna que depois de tantos anos, virou antiga professora de seus filhos e atualmente além de professora resolveu utilizar uma ferramenta para experimentar palavras.
Um grande beijo
Muito bom tia. A senhora escreve bem mesmo. Também gostei desse filme e sempre procuro alguma mensagem nos filmes que assisto, que nesse caso foi muito bem interpretado pela senhora.
Flavinha
sabe, ainda ha coisas na vida que não consigo entender. Situações como a deste filme me tocam muito !
Ro
Tu continua sendo figura, adoro vc e espero que vc visite o meu blog tb se vc nao conseguir me achar pelo meu nome, danielpaza.blogspot.com
Filme fantástico, texto comovente.
Flavinha
dei seus telefones e site do blog para Vera e ela vai ligar pra você. talvez não seja para logo porque no planejamento do ano ela teve que contactar as pessoas para este ano. Mas acho que vai ser mais ráído do que parece.
bjsssssss
Rosário
Flávia
descobri o blog de Artur da Távola (que eu amo) e comecei a ler o que ele escrevia sobre a vida dele, antes de partir. Lindo !!! Maravilhoso !!!
Vi então, a importancia que as pessoas que nos amam tenham algo escrito sobre os sentimentos da pessoa que se foi. Até pensei em começar um blog ... quam sabe?
bjs, Ro
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