quarta-feira, agosto 19, 2009

Meu corpo

Uma noite
devia ter caído

no meu corpo

a esta altura.

Eu falaria
de coisas muito mortas
e, por baixo
do meu vestido,
haveria só uma ausência.

Mencionaria
um destino cumprido,
um segredo desvendado,
uma mocidade preterida.

Inclusive,
ficaria mais fácil
cercar-me
de defesas.

Diria do medo
e seus maquinismos;
das cinzas;
enumeraria pretextos –
o tempo
o frio
até a neve nos cabelos
as rugas...
Todos entenderiam.

Uma mulher
cinzenta
elegante
triunfaria,
admirada.

Mas, no embora da noite,
meu desejo
é uma aurora evidente.

(Por isso
é conveniente
trazer sempre
um dossel).

A vida
(e suas exigências
brutas,
macias,
grandes e
pequenas)
é como linfa
indomável
embaixo
de minha pele.

Esse segredo
exclusivo
(e seus conseguintes
afetos)
sem partilha
sem alvo
é um desperdício...

12 Comments:

At 8:48 PM, Blogger Daniela Falcone said...

Confesso que não entendi a metade, mas a metade que entendi gostei muito.

 
At 10:37 PM, Blogger Unknown said...

É isso, é mesmo -desperdicio!
E desperdicio é uma coisa que devemos evitar, ja diz um dos fundamentos da Qualidade .
Então, mãos (e corpo) a obra para evitar desperdicios !!!
bjs

 
At 6:33 PM, Blogger Thelma said...

Flávia, minha quase-gêmea, um grande abraço e muitíssimas felicidades!!!!! Nos encontraremos, um dia, nesse mundão.....e nos (re)conheceremos.
Bjs.

 
At 11:50 AM, Blogger Marino Abreu said...

Flávia, fui seu aluno nos anos de 2004, 2006 e 2007. E estou aqui para divulgar uma locadora de livros que recentemente montei juntamente com minha namorada. Gostaria de lhe pedir que, se possível for, divulgasse meu site para seus alunos, ou simplesmente o colocasse em seu blog como site recomendado. Nosso acervo ainda está sendo posto no site. Temos todos os gêneros de livros.
Sinta-se a vontade para visitá-lo. http://sites.google.com/site/aluguebooks

Agradeço a atenção.
Marino Abreu

 
At 1:13 PM, Anonymous joão vale neto said...

........................................................................................que lindo.
lindo.
lindo.
lindo.
lindo.
lindo.
lindo.
lindo.

..................................
esse poema é um arco-íris em um avião colorido
fazendo cair pétalas de sorriso
sobre o coração
dos aflitos

um abraço de quem rapidamente aparece
(João, balalão)
para rapidamente desaparecer
(João, balalim)

 
At 9:51 PM, Blogger vitor rocha said...

eu realmente senti frio ao ler. simplesmente inconsolável.

 
At 8:39 AM, Blogger ary said...

Flavia Suassuna tudo bem?
Minha querida eu sou um leitor atento, que adora Literatura pricipalmente brasileira. Mas acontece que terminei meu curso de Letras em 2008, e sabe quando ainda se é cru?? estou com muita dificuldade com relação a conteúdo aos quais devo trasmitir aos alunos, no Estado. e o que é pior, são jovens de 16 a 18 anos de idade, eles percebem tudo. Estive pensando, será que poderia me dar uma mão? não tenho nada organizado ainda, tudo que passo é muito solto muito sem noção.

 
At 12:21 AM, Blogger Cami Rodrigues said...

"Tia Flávia", das boas e lindas épocas do Mater Christi.
Eu era da sala de Diogo.

Cheiro!

 
At 10:50 AM, Anonymous Ítalo M. Rocha Guedes said...

Cara Flávia,
Gostei de seu poema. Não entendo por que lhe estaria destinada esta noite, por que deveria encobrir castamente sua carnalidade. Alguma antiquada convenção social opondo corpo e espírito? A presença viva e talvez inesperada sob seu vestido (que imagino juvenilmente florido) permite entrever a força do espírito. E sem dúvida de sua escrita, limpa, clara, saudavelmente simbólica.

 
At 5:30 PM, Blogger Unknown said...

Lindo como geralmente são seus herméticos contos/poesias: tradução de uma alma tão leve e madura movida por um coração de menina em vestido de renda com laço de fita.

 
At 2:18 PM, Blogger Gerson Q. said...

Muito bom, Flávia.
Admiro sua literatura!

 
At 5:59 PM, Anonymous Anônimo said...

Tua poética é corpo de texto de que noite, aurora ou segredo são vestes.
Mas só tua a epiderme.

Orgulho ainda maior de ser pernambucanamente brasileira quando leio literas assim.

Um beijo, Flávia.

Katyuscia.

 

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