Quinze esperas
Confissão
Este verso
é um segredo.
E, como todo
segredo,
não pode
deixar de ser
dito.
Todos contam
segredos –
amantes
amigos
inimigos...
Então,
murmurando,
como se faz,
confesso
meu desejo.
Como o meu
coração,
ele me carrega
viva,
mesmo quando o
esqueço...
Noite
Quando se apagam
as luzes,
é que sei
sua força!
E, no escuro,
temo
e quero...
Este desejo
que não se apaga...
Dia
Sei que
é tarde
e em vão.
Mas não
somos todos
assim?
E, tão belos,
tão inocentes,
seguimos...
“Na próxima
estação”,
pensamos...
A manhã
também
enuncia
a força
do meu desejo.
Ele
Alguém me espera...
Tão raro
quanto eu,
sabe o rumo
da vida...
Tem cicatrizes,
é claro!
Como eu,
veio de longe...
Está tão só...
Mas fica
quieto e calado...
Maldiz
o destino de solidão;
teme
chegadas alvoroçadas;
procura
em todos os lugares
e rostos;
costuma
ficar triste
quando não encontra...
Pergunto
Saberá quando
me vir?
A cilada
do mundo
o deterá?
Terá coragem?
Um rio
Um amor
de verdade
nunca é fácil.
Como esses rios
muito fundos
e muito raros.
Tão perigoso mergulhar...
E o que haverá
naquela água
escura e lenta?
Dentro da água,
sinto frio...
Segundo ele
Segundo ele,
eu não existo...
Seria tão rara...
Teria gestos
tão únicos...
Saberia,
por instinto,
dizer-lhe
palavras tão
certas e
necessárias...
Possuiria
um perfume
tão exato...
Deus não seria capaz...
E eu estou aqui...
Segunda eu
Às vezes,
me desespero...
“Que faço?”
− pergunto...
Ele desistiu!
Está cansado
e guardado
e fugido...
Recife
Um milhão
e meio de rostos...
Meu Deus!
Eu não te acharei!
Conselho
Aconselho-me
calma.
O mundo
inteiro
não perderia
este encontro.
É preciso
seguir,
bonita,
como me cabe
(mais por dentro
como se sabe).
Cuidado
Minha senha
nova
ninguém sabe...
Fiquei mais
cautelosa...
Mas tenho ainda
coragem
de dizê-la
de mudá-la
outras vezes.
Digo logo
Quem não tem medo
é destemido.
Quem o tem
e, ainda assim,
arrisca,
é corajoso.
Eco
De um extremo
da noite,
grito
teu nome
que nem sei...
Por que
não respondes
depressa?
Tatuagens
Quando me dispo,
de todo,
ainda restam
cicatrizes e
esperanças...
Em suma
Quando pinto
meus olhos,
minha boca...
Sinto que
estás não sei
onde,
mas sempre
na minha frente.
10 Comments:
Achei massa Flávia! Você tem o dom de emocionar seus leitores! Parabéns professora!
"Tatuagens
Quando me dispo,
de todo,
ainda restam
cicatrizes e
esperanças..."
Intenso!
e como é lindo. Me apaixonei por esses.
Érica
Eu vim aqui, mandar uma mensagem. Estava plantando grama. Leio seus poemas e acho que vou plantar mais grama: a leitura deles iluminou o dia, o céu azul, os bichinhos miúdos, todos os rumores.
Este comentário foi removido pelo autor.
Acho que foi seu filho que falou para senhora : Mãe eu ainda não sei apreciar poesia!
Vou ter que usar essa frase dele... Professora eu ainda não sei apreciar poesia, mas todo mês venho ler o que a senhora escreve. Quando é poesia , tenho que ler mais de uma vez para entender alguma coisa... e mesmo sem saber ainda como gostar, venho ler, porque a senhora é uma inspiração para mim, e tenho que tomar minha dose mensal do seu saber.
Sou sua fã professora, lhe admiro muito e para mim é muito triste não poder mais assistir suas aulas =/
É noite e a cachorra preta late a jumento quando não late os passarinhos: pensa talvez que eu aprove esses dois afazeres. Cheguei cansado neste grotão escuro e profundamente profundo, mas como há estrelas, venho aqui ler mais uma vez seus poemas, para que cachorra, jumenta, noite e estrelas ressoem para além delas mesmas.
Meu abraço: Genésio Fernandes
Flávia, que lindo poema! Fui sua aluna e adoro o blog, que me permite matar um pouco da saudade que sinto das suas aulas! Um grande abraço!
O dia hoje foi inteiro de enfado, brusco, brusco, de dar pena: um dia bunda-mole, desses que parecem não servir para nada - a não ser para desbrilhar tudo o que nos chama. Então venho aqui para seu poemas, pequenas estrelas que tudo imanta agudamente. Recorro a eles para que as pedras falem e a noite ressalte a tua presença sempre luminosa, minha amiga.
Genésio Fernandes
"Segundo ele,
eu não existo..."
Lindo!!
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