segunda-feira, julho 25, 2011

Quinze esperas

Confissão

Este verso

é um segredo.


E, como todo

segredo,

não pode

deixar de ser

dito.


Todos contam

segredos –

amantes

amigos

inimigos...


Então,

murmurando,

como se faz,

confesso

meu desejo.


Como o meu

coração,

ele me carrega

viva,

mesmo quando o

esqueço...


Noite

Quando se apagam

as luzes,

é que sei

sua força!


E, no escuro,

temo

e quero...


Este desejo

que não se apaga...


Dia

Sei que

é tarde

e em vão.


Mas não

somos todos

assim?


E, tão belos,

tão inocentes,

seguimos...


“Na próxima

estação”,

pensamos...


A manhã

também

enuncia

a força

do meu desejo.


Ele

Alguém me espera...

Tão raro

quanto eu,

sabe o rumo

da vida...


Tem cicatrizes,

é claro!


Como eu,

veio de longe...

Está tão só...


Mas fica

quieto e calado...


Maldiz

o destino de solidão;

teme

chegadas alvoroçadas;

procura

em todos os lugares

e rostos;

costuma

ficar triste

quando não encontra...


Pergunto

Saberá quando

me vir?


A cilada

do mundo

o deterá?


Terá coragem?


Um rio

Um amor

de verdade

nunca é fácil.


Como esses rios

muito fundos

e muito raros.


Tão perigoso mergulhar...


E o que haverá

naquela água

escura e lenta?


Dentro da água,

sinto frio...


Segundo ele

Segundo ele,

eu não existo...


Seria tão rara...

Teria gestos

tão únicos...

Saberia,

por instinto,

dizer-lhe

palavras tão

certas e

necessárias...

Possuiria

um perfume

tão exato...


Deus não seria capaz...


E eu estou aqui...


Segunda eu

Às vezes,

me desespero...


“Que faço?”

− pergunto...


Ele desistiu!

Está cansado

e guardado

e fugido...


Recife

Um milhão

e meio de rostos...


Meu Deus!

Eu não te acharei!


Conselho

Aconselho-me

calma.


O mundo

inteiro

não perderia

este encontro.


É preciso

seguir,

bonita,

como me cabe

(mais por dentro

como se sabe).


Cuidado

Minha senha

nova

ninguém sabe...


Fiquei mais

cautelosa...


Mas tenho ainda

coragem

de dizê-la

de mudá-la

outras vezes.


Digo logo

Quem não tem medo

é destemido.


Quem o tem

e, ainda assim,

arrisca,

é corajoso.


Eco

De um extremo

da noite,

grito

teu nome

que nem sei...


Por que

não respondes

depressa?


Tatuagens

Quando me dispo,

de todo,

ainda restam

cicatrizes e

esperanças...


Em suma

Quando pinto

meus olhos,

minha boca...


Sinto que

estás não sei

onde,

mas sempre

na minha frente.

10 Comments:

At 11:38 AM, Blogger Jáder Cabral said...

Achei massa Flávia! Você tem o dom de emocionar seus leitores! Parabéns professora!

 
At 11:36 PM, Blogger Manuela Lins said...

"Tatuagens

Quando me dispo,

de todo,

ainda restam

cicatrizes e

esperanças..."

Intenso!

 
At 11:05 PM, Anonymous Anônimo said...

e como é lindo. Me apaixonei por esses.

Érica

 
At 1:56 PM, Blogger tocadaspacas said...

Eu vim aqui, mandar uma mensagem. Estava plantando grama. Leio seus poemas e acho que vou plantar mais grama: a leitura deles iluminou o dia, o céu azul, os bichinhos miúdos, todos os rumores.

 
At 4:43 PM, Blogger Bruna Dayane Sagaz said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 4:45 PM, Blogger Bruna Dayane Sagaz said...

Acho que foi seu filho que falou para senhora : Mãe eu ainda não sei apreciar poesia!

Vou ter que usar essa frase dele... Professora eu ainda não sei apreciar poesia, mas todo mês venho ler o que a senhora escreve. Quando é poesia , tenho que ler mais de uma vez para entender alguma coisa... e mesmo sem saber ainda como gostar, venho ler, porque a senhora é uma inspiração para mim, e tenho que tomar minha dose mensal do seu saber.
Sou sua fã professora, lhe admiro muito e para mim é muito triste não poder mais assistir suas aulas =/

 
At 11:07 PM, Blogger tocadaspacas said...

É noite e a cachorra preta late a jumento quando não late os passarinhos: pensa talvez que eu aprove esses dois afazeres. Cheguei cansado neste grotão escuro e profundamente profundo, mas como há estrelas, venho aqui ler mais uma vez seus poemas, para que cachorra, jumenta, noite e estrelas ressoem para além delas mesmas.
Meu abraço: Genésio Fernandes

 
At 12:23 AM, Anonymous Ana Flávia Mendonça said...

Flávia, que lindo poema! Fui sua aluna e adoro o blog, que me permite matar um pouco da saudade que sinto das suas aulas! Um grande abraço!

 
At 10:32 PM, Blogger tocadaspacas said...

O dia hoje foi inteiro de enfado, brusco, brusco, de dar pena: um dia bunda-mole, desses que parecem não servir para nada - a não ser para desbrilhar tudo o que nos chama. Então venho aqui para seu poemas, pequenas estrelas que tudo imanta agudamente. Recorro a eles para que as pedras falem e a noite ressalte a tua presença sempre luminosa, minha amiga.
Genésio Fernandes

 
At 9:08 PM, Anonymous Valkiria Pereira said...

"Segundo ele,

eu não existo..."

Lindo!!

 

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