Na linha do tiro
Quando o ENEM, há cerca de dez anos, propôs novos parâmetros curriculares para o ensino médio, confesso que exultei! Nunca escondi o que pensava de um ensino médio tão fortemente científico e conteudista, como o nosso.
Quando eu era jovem, havia, no país, dois ensinos médios – um, chamado “clássico”, com ênfase nas humanas; outro, chamado “científico”, com ênfase nas ciências, como o próprio nome adianta. Durante a ditadura militar, fizemos uma reforma e, claro, matamos o clássico. Mudamos o nome para “segundo grau”, o que dificulta a compreensão de que mantivemos o currículo do antigo “científico”, e passamos trinta anos dando informações predominantemente científicas a nossos alunos no ensino médio.
Num pacto silencioso, acertamos que o professor de humanas “botaria o pé na embreagem” e, com a anuência da sociedade, valorizamos a ciência, infelizmente, em detrimento das humanidades, no ensino médio no país. O resultado foi um desastre: são um fracasso os ensinos médios público e privado no Brasil. Denúncias aparecem na mídia todo dia.
Esse ensino médio com currículo não só científico, mas também homogêneo é um caminho errado que tomamos. A tabulação do próprio ENEM aponta apenas 6% das escolas como instituições que preparam, realmente, os alunos para os imensos desafios nacionais e globais; as medições internacionais, como o PISA, também atestam nossas incapacidades em todas as áreas – humanas e científicas.
Em relação às ciências, faço minhas as observações de Richard Feynman, prêmio Nobel de Física, quando veio ao Brasil na década de 50: ao contactar vestibulandos brasileiros, espantou-se com o pendor pela memorização de fórmulas e não pela real compreensão dos fenômenos que elas descreviam. Quando, mais tarde, escreveu sobre a experiência, ele acrescentou que os jovens brasileiros estudavam muita física, mas não sabiam, realmente, a matéria.
Quando eu era jovem, havia, no país, dois ensinos médios – um, chamado “clássico”, com ênfase nas humanas; outro, chamado “científico”, com ênfase nas ciências, como o próprio nome adianta. Durante a ditadura militar, fizemos uma reforma e, claro, matamos o clássico. Mudamos o nome para “segundo grau”, o que dificulta a compreensão de que mantivemos o currículo do antigo “científico”, e passamos trinta anos dando informações predominantemente científicas a nossos alunos no ensino médio.
Num pacto silencioso, acertamos que o professor de humanas “botaria o pé na embreagem” e, com a anuência da sociedade, valorizamos a ciência, infelizmente, em detrimento das humanidades, no ensino médio no país. O resultado foi um desastre: são um fracasso os ensinos médios público e privado no Brasil. Denúncias aparecem na mídia todo dia.
Esse ensino médio com currículo não só científico, mas também homogêneo é um caminho errado que tomamos. A tabulação do próprio ENEM aponta apenas 6% das escolas como instituições que preparam, realmente, os alunos para os imensos desafios nacionais e globais; as medições internacionais, como o PISA, também atestam nossas incapacidades em todas as áreas – humanas e científicas.
Em relação às ciências, faço minhas as observações de Richard Feynman, prêmio Nobel de Física, quando veio ao Brasil na década de 50: ao contactar vestibulandos brasileiros, espantou-se com o pendor pela memorização de fórmulas e não pela real compreensão dos fenômenos que elas descreviam. Quando, mais tarde, escreveu sobre a experiência, ele acrescentou que os jovens brasileiros estudavam muita física, mas não sabiam, realmente, a matéria.
Em nenhum lugar do mundo se pretende ensinar tanto em tão pouco tempo. Meus alunos que querem ingressar numa faculdade de medicina (e para isso precisam ficar com uma média oito) gastam mais dois ou três anos para fazê-lo, além dos três do ensino médio; o número de tópicos apresentados aqui em matemática chega a ser dez vezes maior do que em Singapura, país bem colocado no “ranking” internacional. Em outras palavras, pretendemos ensinar muito em pouco tempo (também considerando o tempo em sala de aula, que é muito pouco ou mal planejado, se comparado com o das escolas mundo afora). E nem percebemos que, num mundo que tem a internet, o saber enciclopédico deixou de ter valor; é melhor ensinar a pensar, julgar, hierarquizar, descartar, analisar...
Com relação às humanidades, o problema se repete, com mais complicações. Inicialmente, é bom frisar que a cultura da sociedade e, consequentemente, do estudante não valoriza as humanas, apesar de a maioria dos alunos optar por elas – neste ano, por exemplo, tenho duas salas de humanas, uma de saúde, outra de exatas, num dos colégios onde leciono.
É um absurdo que esses alunos com interesses e talentos tão diversos tenham que cursar a mesma escola. Uma “olhadinha” noutras realidades mostra ou uma escola única com um sistema de créditos (Estados Unidos), ou várias escolas “desaguando” em várias universidades (França). Afora as dificuldades gerais do dia a dia de uma escola que, na minha opinião, são o sintoma de que algo não vai bem, nunca testemunhei ninguém reclamar desse modo monolítico do nosso país, o que me certifica de que ainda demoraremos a começar a fazer modificações nessa estrutura que mereceria ser repensada, já que traz resultados tão pífios.
Parece que o MEC inicia uma reflexão sobre a pluralização do ensino médio, plano difícil de executar, em virtude do engessamento das leis, da cultura da sociedade, do despreparo dos professores, dos interesses difusos e diversos... Mas essa discussão precisa ser enfrentada por nossa sociedade, juntamente com outra sobre os parâmetros didáticos e metodológicos para o ensino da língua portuguesa, já que a leitura é uma competência paralela necessária para a apropriação do conhecimento nas diversas áreas do saber.
Esvaziou-se de tal forma a prova de português de conteúdos, que o aluno ou não sabe o que estudar ou acha que não precisa estudar para ela, o que, indiretamente, prejudica-o na prova de redação, até porque ele continua cometendo erros gramaticais, sem conseguir, no processo, aperfeiçoar seu próprio texto.
Aliás, o processo ensino/aprendizagem de redação traz em si complicadores específicos e adicionais: para bem escrever, é preciso ler, fazer relações entre as informações recebidas, interpretar, selecionar, posicionar-se diante daquilo que se lê, até apropriar-se do conhecimento trazido pela leitura... E escrever é o resultado de todo esse processo. É um percurso complexo e intimamente ligado à individuação de cada aluno; a redação é o espaço mesmo da interdisciplinaridade: conteúdos de biologia, química, física, história, sociologia, filosofia e mesmo gramática precisam ser acessados, organizados, julgados, hierarquizados pelo aluno, para que dê conta da tarefa. Isso tudo, sem falar da literatura, que foi relegada a segundo plano, o que costuma acontecer com a arte na nossa sociedade pragmática e materialista.
Mas a leitura do texto literário também é fundamental. Diacronicamente, é na literatura que elaboramos impasses, medos, desejos, dúvidas, mudanças, utopias... Um escritor, ou um grupo de escritores, a seu modo, nos dá voz, nos ensina a nos falar, explica o que não entendemos, nos proporciona contato com a beleza, de que também precisamos.
Não bastassem tantas dificuldades internas, ainda aparece, no final, o vestibular, que projeta sobre esse tão difícil ensino médio uma “sombra”, como sabiamente diz Rubem Alves. Aliás, é aos programas das diversas universidades e seus respectivos vestibulares que se deve o conteudismo do nosso ensino médio.
O ENEM, apesar das boas intenções, não veio clarificar essa situação, mas confundir mais – temos hoje um vestibular misto (ENEM servindo como primeira fase e uma prova de específicas na segunda fase), que confirmou a valorização das ciências, além de que tirou redação da segunda fase e fez valer a redação do ENEM.
Acontece que o ENEM é avaliativo, ou seja, por meio dele, pretende-se avaliar como nossos alunos terminam o ensino médio para que se gerem políticas educacionais públicas e privadas para aperfeiçoá-lo. Nesse sentido, o olhar é diferente: o avaliador deve valorizar o que lhe foi mostrado pelo aluno, deve realizar uma avaliação cooperativa. Não é o que acontece no vestibular, quando o olhar deveria ser seletivo, ou seja, o avaliador vai em busca do defeito do texto apresentado pelo aluno, pois seu objetivo é selecionar e excluir.
É impossível conciliar dois objetivos tão antagônicos, além de que corretores para cinco milhões de redações jamais conseguirão, em virtude no número, uniformização de critérios, o que torna inalcançável a isonomia de condições, imprescindível em qualquer concurso seletivo.
O que se vê, infelizmente, é um resultado arbitrário que não premia o mérito, mas a sorte e que convida não ao esforço e, sim, à simplificação, ao truque, à dica... Começam a nascer em todas as esquinas falsos professores de redação que, acobertados pelos resultados arbitrários do ENEM e pela insegurança dos adolescentes, dão fórmulas mágicas de como enganar os avaliadores!
É preciso lembrar que foi contra isso que o ENEM nasceu.
Proponho que se some à redação da primeira fase, cuja manutenção defendo, já que precisamos como país dessa avaliação para nortear nossas políticas educacionais, outra na segunda fase, até porque temos, em Pernambuco, na Universidade Federal, uma excelente Faculdade de Letras, que, junto com a COVEST, sempre cumpriu com competência e responsabilidade a tarefa de avaliação de textos vestibulares. Além disso, mais recentemente, o aluno tinha obtido o direito de ver sua prova depois de avaliada, o que lhe dava oportunidade de compreender seus erros e, portanto, de crescer como produtor de textos.
Constitui retrocesso político, portanto, o aluno perder essa oportunidade, já que, centralizadas em Brasília, as provas saem completamente da sua vista. Essa incômoda distância também vitima o professor, porque ele não pode opinar sobre quesitos que, na sua opinião, mereceriam ser anulados ou cujo gabarito deveria ser trocado.
Toda essa democrática discussão foi trocada, no ENEM, por uma fórmula matemática que, diz-se, resolve impasses, inescapáveis em qualquer concurso, pois falhas costumam acontecer em atividades humanas.
Isso tudo constitui um desserviço ao processo educacional, já que alija dele elementos seus constituintes – o aluno e o professor; o ato de falar e escutar, de fazer e refazer, de errar e consertar...
Com relação às humanidades, o problema se repete, com mais complicações. Inicialmente, é bom frisar que a cultura da sociedade e, consequentemente, do estudante não valoriza as humanas, apesar de a maioria dos alunos optar por elas – neste ano, por exemplo, tenho duas salas de humanas, uma de saúde, outra de exatas, num dos colégios onde leciono.
É um absurdo que esses alunos com interesses e talentos tão diversos tenham que cursar a mesma escola. Uma “olhadinha” noutras realidades mostra ou uma escola única com um sistema de créditos (Estados Unidos), ou várias escolas “desaguando” em várias universidades (França). Afora as dificuldades gerais do dia a dia de uma escola que, na minha opinião, são o sintoma de que algo não vai bem, nunca testemunhei ninguém reclamar desse modo monolítico do nosso país, o que me certifica de que ainda demoraremos a começar a fazer modificações nessa estrutura que mereceria ser repensada, já que traz resultados tão pífios.
Parece que o MEC inicia uma reflexão sobre a pluralização do ensino médio, plano difícil de executar, em virtude do engessamento das leis, da cultura da sociedade, do despreparo dos professores, dos interesses difusos e diversos... Mas essa discussão precisa ser enfrentada por nossa sociedade, juntamente com outra sobre os parâmetros didáticos e metodológicos para o ensino da língua portuguesa, já que a leitura é uma competência paralela necessária para a apropriação do conhecimento nas diversas áreas do saber.
Esvaziou-se de tal forma a prova de português de conteúdos, que o aluno ou não sabe o que estudar ou acha que não precisa estudar para ela, o que, indiretamente, prejudica-o na prova de redação, até porque ele continua cometendo erros gramaticais, sem conseguir, no processo, aperfeiçoar seu próprio texto.
Aliás, o processo ensino/aprendizagem de redação traz em si complicadores específicos e adicionais: para bem escrever, é preciso ler, fazer relações entre as informações recebidas, interpretar, selecionar, posicionar-se diante daquilo que se lê, até apropriar-se do conhecimento trazido pela leitura... E escrever é o resultado de todo esse processo. É um percurso complexo e intimamente ligado à individuação de cada aluno; a redação é o espaço mesmo da interdisciplinaridade: conteúdos de biologia, química, física, história, sociologia, filosofia e mesmo gramática precisam ser acessados, organizados, julgados, hierarquizados pelo aluno, para que dê conta da tarefa. Isso tudo, sem falar da literatura, que foi relegada a segundo plano, o que costuma acontecer com a arte na nossa sociedade pragmática e materialista.
Mas a leitura do texto literário também é fundamental. Diacronicamente, é na literatura que elaboramos impasses, medos, desejos, dúvidas, mudanças, utopias... Um escritor, ou um grupo de escritores, a seu modo, nos dá voz, nos ensina a nos falar, explica o que não entendemos, nos proporciona contato com a beleza, de que também precisamos.
Não bastassem tantas dificuldades internas, ainda aparece, no final, o vestibular, que projeta sobre esse tão difícil ensino médio uma “sombra”, como sabiamente diz Rubem Alves. Aliás, é aos programas das diversas universidades e seus respectivos vestibulares que se deve o conteudismo do nosso ensino médio.
O ENEM, apesar das boas intenções, não veio clarificar essa situação, mas confundir mais – temos hoje um vestibular misto (ENEM servindo como primeira fase e uma prova de específicas na segunda fase), que confirmou a valorização das ciências, além de que tirou redação da segunda fase e fez valer a redação do ENEM.
Acontece que o ENEM é avaliativo, ou seja, por meio dele, pretende-se avaliar como nossos alunos terminam o ensino médio para que se gerem políticas educacionais públicas e privadas para aperfeiçoá-lo. Nesse sentido, o olhar é diferente: o avaliador deve valorizar o que lhe foi mostrado pelo aluno, deve realizar uma avaliação cooperativa. Não é o que acontece no vestibular, quando o olhar deveria ser seletivo, ou seja, o avaliador vai em busca do defeito do texto apresentado pelo aluno, pois seu objetivo é selecionar e excluir.
É impossível conciliar dois objetivos tão antagônicos, além de que corretores para cinco milhões de redações jamais conseguirão, em virtude no número, uniformização de critérios, o que torna inalcançável a isonomia de condições, imprescindível em qualquer concurso seletivo.
O que se vê, infelizmente, é um resultado arbitrário que não premia o mérito, mas a sorte e que convida não ao esforço e, sim, à simplificação, ao truque, à dica... Começam a nascer em todas as esquinas falsos professores de redação que, acobertados pelos resultados arbitrários do ENEM e pela insegurança dos adolescentes, dão fórmulas mágicas de como enganar os avaliadores!
É preciso lembrar que foi contra isso que o ENEM nasceu.
Proponho que se some à redação da primeira fase, cuja manutenção defendo, já que precisamos como país dessa avaliação para nortear nossas políticas educacionais, outra na segunda fase, até porque temos, em Pernambuco, na Universidade Federal, uma excelente Faculdade de Letras, que, junto com a COVEST, sempre cumpriu com competência e responsabilidade a tarefa de avaliação de textos vestibulares. Além disso, mais recentemente, o aluno tinha obtido o direito de ver sua prova depois de avaliada, o que lhe dava oportunidade de compreender seus erros e, portanto, de crescer como produtor de textos.
Constitui retrocesso político, portanto, o aluno perder essa oportunidade, já que, centralizadas em Brasília, as provas saem completamente da sua vista. Essa incômoda distância também vitima o professor, porque ele não pode opinar sobre quesitos que, na sua opinião, mereceriam ser anulados ou cujo gabarito deveria ser trocado.
Toda essa democrática discussão foi trocada, no ENEM, por uma fórmula matemática que, diz-se, resolve impasses, inescapáveis em qualquer concurso, pois falhas costumam acontecer em atividades humanas.
Isso tudo constitui um desserviço ao processo educacional, já que alija dele elementos seus constituintes – o aluno e o professor; o ato de falar e escutar, de fazer e refazer, de errar e consertar...
Republico abaixo dois textos sobre temas correlatos ao de hoje, com a esperança de ver meu tão amado ensino médio aperfeiçoado no país.
Por que sonhar com uma escola inclusiva (julho de 2006)
No final de 2000 fui indireta e duramente atingida pela deficiência: meu filho, de então 17 anos, contraiu uma doença neurológica rara que lhe deixou graves sequelas.
No final de 2000 fui indireta e duramente atingida pela deficiência: meu filho, de então 17 anos, contraiu uma doença neurológica rara que lhe deixou graves sequelas.
Essa história resumida num parágrafo parece rápida e fácil, mas consumiu da família toda muitos meses de lágrimas e dores de toda espécie.
Particularmente, as piores dificuldades concentraram-se naquilo que podia ser evitado e não o foi – desentendimentos com o plano de saúde, com o hospital domiciliar ou audiências com médicos cujos sombrios prognósticos apontavam vida vegetativa seguida de morte.
Apesar disso, em 2003, meu filho voltou a estudar, repetindo o primeiro ano do ensino médio. O quadro que se descortinou, durante três anos, repetiu o que já tínhamos experimentado – sofrimento evitável que potencializa o inevitável.
É sobre essa experiência que este relato se constrói, e as metáforas, com licença, são devidas às dificuldades básicas de tradução de terremotos em palavras. O chão se abriu e caímos num abismo, localizado entre o “não sabemos” e o “não queremos”.
Particularmente, as piores dificuldades concentraram-se naquilo que podia ser evitado e não o foi – desentendimentos com o plano de saúde, com o hospital domiciliar ou audiências com médicos cujos sombrios prognósticos apontavam vida vegetativa seguida de morte.
Apesar disso, em 2003, meu filho voltou a estudar, repetindo o primeiro ano do ensino médio. O quadro que se descortinou, durante três anos, repetiu o que já tínhamos experimentado – sofrimento evitável que potencializa o inevitável.
É sobre essa experiência que este relato se constrói, e as metáforas, com licença, são devidas às dificuldades básicas de tradução de terremotos em palavras. O chão se abriu e caímos num abismo, localizado entre o “não sabemos” e o “não queremos”.
O “não sabemos” veio falado e seguido do “não queremos saber”, velado: os erros foram se repetindo à exaustão durante três anos. Esperei o erro no primeiro ano, mas, no segundo, não. Infelizmente, ele tornou a acontecer...
Sistematicamente, a escola não garantiu a meu filho medidas de acessibilidade arquitetônica, comunicacional, metodológica e programática, o que agudizou suas deficiências.
Seria injusto dizer que foram criadas barreiras afetivas, mas só a acessibilidade atitudinal não faz de uma escola uma escola.
O “não queremos” é crime, por isso não é falado. Mas ele existe no desvão de nossa humanidade incompleta.
Existe inarticulado tanto no pai que quer uma escola conteudística apenas e acha que a pessoa com deficiência atrapalha o aprendizado rápido do seu filho normal, quanto no que finge acreditar que o filho aprendeu uma tábua de conhecimentos pertinente e quantitativamente adequada.
Existe no dono da escola que quer vender pluralidade, sem ser, sem construir e sem formar pluralidade.
Existe escondido no professor que se agarra a fórmulas tradicionais e pensa que não tem tempo para dar atenção especial a nenhum aluno, mesmo ao que precisa disso (e muitos precisam). E que perpetua o sistema, usando-o como desculpa ou como atenuante, a não ser quando reclama do salário.
Existe em todos nós quando sentimos o constrangimento da situação de falar com nosso chefe para levarmos nossa mãe, já com deficiências, ao médico. Esse nó só aparece numa sociedade que não sabe harmonizar diferenças, nem criar confianças.
Existe na escola que finge que todos são iguais e expulsa os diferentes. De todos os matizes. Ou na que aceita o diferente, mas não é capaz de eliminar as barreiras que o derrubam.
Existe no sistema uniformizante que pede ao aluno para escrever sobre “pluralidade” num texto do vestibular que o exclui se ele não acertar a fazê-lo.
A deficiência de meu filho me humanizou: aumentou minha capacidade de sonhar, lançou-me contra o estabelecido, me fez chorar e errar. Também despertou dentro de mim os mais primários imperativos de fuga e suplantação de onde brotou uma energia desconhecida que agora me move.
A clareza decorrente desse processo me fez vislumbrar uma escola que seria uma casa com “sótão” (para atender as habilidades altas) e “porão” (para atender as limitações funcionais) e, não, um lugar que ignora os alunos e seus tempos, interesses, quereres e necessidades particulares, sequencia aulas iguais, sem garantir motivação, e começa a “falar” em aumentar o tempo de permanência do aluno, repetindo aulas expositivas, sem “pensar” nas especificidades e, consequentemente, em atividades também não-acadêmicas que poderiam desabrochar múltiplos estilos de aprendizagem e inteligência.
Trazer a pessoa com deficiência para a escola não é só aceitá-la; é mudar a escola, e essa transformação não só é possível como necessária. O que não é bom para a pessoa com deficiência não é bom para ninguém.
Essa presença na escola é um caminho: como num espelho, ela nos fará assumir nossa natureza complexa e múltipla e nos dará coragem de lutar pelo equilíbrio da balança inescapável que é a nossa convivência – num prato, a igualdade (quando a ameaça é a inferioridade); no outro, a diferença (quando a ameaça for a massificação).
A escola inclusiva é desejável porque todos nós merecemos e temos o direito de pertencer, sem abrir mão de nossas idiossincrasias; é desejável porque precisamos de planejamentos e tratamentos individualizados; é desejável porque carecemos de projetos; é desejável porque necessitamos de diálogo; é desejável porque precisamos uns dos outros; é desejável porque não podemos prescindir de nós mesmos.
A presença da pessoa com deficiência escancara a deficiência de nossa escola e de nossa sociedade. O processo de inserção dessa pessoa implicará o enfrentamento necessário desse problema e o consequente aperfeiçoamento da escola e da sociedade de todos.
O vestibular é justo? (dezembro de 2006)
Alguns países democratizaram o ensino médio há cerca de 100 anos e, aos poucos, foram fazendo o mesmo com o ensino superior. Os Estados Unidos, o Canadá, a Coreia do Sul, por exemplo, levam perto de 80% de sua população à universidade.
É claro que, nesses países, o vestibular não é excludente; se o fosse, esses números não seriam alcançáveis. Exemplificando, nos Estados Unidos, o papel desse exame é localizar o estudante na universidade que melhor desenvolveria suas habilidades.
A sociedade americana trilhou nessa área um caminho que vale a pena estudar: não só construiu a melhor universidade do mundo (o critério é acadêmico – é a mais citada por outras universidades em trabalhos acadêmicos), mas também a que abriga um número espantoso de alunos, até de outros países, que lá aprendem/produzem conhecimento de ponta.
Não se quer com isso defender que esse modelo seja exportado e copiado em todos os outros países, independentemente de sua história e de sua cultura, mas é preciso constatar os efeitos positivos desse sistema para a sociedade global: há avanços científicos e tecnológicos de que se desfruta no mundo, forjados nos inquietos campus americanos.
Para entender o sistema, no entanto, é bom considerar sua pluralidade – nem todo estudante americano, por exemplo, frequenta as chamadas Ivy Leagues, onde só estuda a elite intelectual americana, egressa de qualquer estrato social, identificada através de um exame nacional seriado, que acontece ao longo do ensino médio. Mas não é por isso que um conjunto grande de alunos não terá um lugar no ensino superior: há uma multiplicidade de tipos de universidades que formam de médicos a tratoristas, passando por pedreiros, encanadores, esteticistas, motoristas de táxi, nos frequentadíssimos Community Colleges, onde, aliás, estão 50% dos universitários americanos.
Ensina-se de tudo na universidade americana – artes ou ciências –, principalmente se profissionaliza uma população grande que, através de um conhecimento também humanístico, é capacitada para se debruçar sobre problemas reais e os enfrentar ou resolver, pensando sobre eles.
É conhecida a dificuldade de brasileiros que, estudando nos Estados Unidos, são instados a resolver problemas de empresas americanas que enviam à universidade seus impasses reais para que sejam apresentadas soluções, a fim de superá-los.
Bolsistas ou pagantes (de toda sorte – uns pagam muito, outros nem tanto, porque fazem trabalho voluntário, esportes, arranjam empregos variados, trabalham no campus em creches, no jardim, nas cantinas...), os americanos se orgulham dos números de sua universidade, um sistema complexo e grande, que conseguiu profissionalizar uma população eficiente e rica.
É claro que há outros valores noutras sociedades e culturas e é aí que entram as adaptações e a criatividade de cada povo. Mas o que se quer aqui é apenas considerar o papel do vestibular nesse sistema: localizar o aluno numa universidade para que seus talentos sejam desenvolvidos e aproveitados socialmente, porque a sociedade americana disponibiliza vagas para quase todos. E o vestibular segue as regras desse jogo.
Não é o que acontece na sociedade brasileira, sabidamente uma das mais excludentes do planeta. Apenas 10% da população completa cursos universitários cujos modelos monolíticos variam somente em relação à qualidade dos alunos que chegam: os cursos modelam grade curricular, carga horária, metodologia e didática igualmente, o que, ao longo da formação acadêmica, vai forjando dois grupos de profissionais – o mais capaz e o menos – e, mais tarde, uma multidão incontável de desempregados ou subempregados que mais recentemente resolveu virar a turma que faz rotineiramente concursos públicos, como se fosse possível a uma sociedade empregar toda a sua população na esfera pública, sem a contrapartida da iniciativa privada, responsável pela geração da riqueza.
Muito recentemente começam a “pipocar” universidades alternativas aqui em Pernambuco, como o Instituto Tecnológico ou o Senac, mas são iniciativas recém-nascidas nas quais a população ainda não acredita e que, num processo lento, terminarão por conquistar seu lugar no sistema.
No Brasil, portanto, o vestibular tem um papel diferente do que tem nos Estados Unidos: ele precisa cumprir um “dever de exclusão” porque a sociedade brasileira disponibiliza “vagas” para poucos – certamente uma sociedade excludente precisa de mecanismos de exclusão e nosso vestibular é apenas uma entre as muitas ferramentas que o sistema utiliza para descartar a maioria.
Nosso vestibular é frequentemente acusado de injusto e excludente. E é. Mas ele é apenas a ponta do “iceberg” de nossa lógica política; é apenas a cachoeira de um rio que se estreita absurdamente ao longo do seu leito e que afoga gente demais nas suas águas.
O que precisamos enxergar no espelho desse rio é nossa face refletida. Com um revólver nas têmporas.
É difícil o percurso: democratizar a qualidade do ensino fundamental, quebrar a lógica da reprovação escolar, incluir a pluralidade com suas necessidades especiais, capacitar os professores para enfrentar desafios imprevisíveis, valorizá-los, para que se sintam parte de um projeto social essencial, repensar o ensino médio a fim de prepará-lo para a diversidade que o alcançará, priorizar o essencial e descartar o desnecessário. Sobretudo encarar as disparidades e as contradições.
É difícil. Mas é inescapável e urgente.
O vestibular é injusto, até porque a sociedade brasileira é injusta. Democratizá-la é tarefa de todos e isso se faz num processo lento e penoso de embates de quereres e interesses de toda sorte.
De qualquer forma, há fraturas visíveis na arquitetura dessa lógica excludente dentro de cada brasileiro que começa a se inquietar buscando saídas e soluções. Mas é preciso mais empenho.
Que façamos do espetáculo de nossa desmedida violência impulso para buscar novos caminhos, orientados por outra bússola: a da maioria. E que nossa criatividade e nossa alegria costurem um tecido mais elástico cuja trança seja fruto do trabalho e da participação de todos nós.
23 Comments:
Flávia
ainda não tinha visto este tema ser trabalhado com tal profundidade e coerencia!
Parabéns! ele deveria ser espalhado pelos diversos meios de comunicação, para que as pessoas "acordem" deste torpor que leva a tantos erros na área de educação e, mais ainda na sociedade como um todo. Se você permitir, gostaria de enviar para todos os meus contatos.
Grata por compartilhar tanta sabedoria!
Rosário
Uma criança especial precisa de cuidados e professores especiais. Numa sala de aula normal, não conseguirá acompanhar o ritmo dos outros alunos; por outro lado, os estudantes mais espertos tampouco poderão aprender tanto quanto deveriam (não que, nos dias de hoje, a escola ensine muito mais do que como colocar uma camisinha numa banana). É um problema também para os professores, muitos dos quais não tem treinamento específico para lidar com pessoas mentalmente diferenciadas. E ainda existe o maior risco de bullying, a nova paranóia.
Concordo demais! O sistema de ingresso não só é altamente exclusivo como tira a capacidade de senso crítico do aluno, que acaba absorvendo o conteúdo sem prazer, de forma metódica e automática. Tudo para fazer uma prova.
Outra coisa que me chamou muito a atenção foi o comentário do ganhador do Nobel, quando veio ao Brasil. É exatamente isso o que acontece: não há real compreensão do conte-údo abordado e sim sua apreensão, que acaba sendo momentânea e improdutiva para meios científicos. Bem na “decoreba” mesmo! Sem falar na desvalorização das ciências humanas! Vou-me embora para Pasárgada!!!! Kkkk Um beijo da aluna que mais te admira! Acho que nunca disse isso, mas a senhora me lembra muito minha mãe! Te adoro! Amanda Aires, 3 ano do CBV núcleo.
Ah, Flavinha! Esqueci de mandar o endereço do primeiro capítulo do meu livro.
http://bebaabsinto.blogs.sapo.pt/
Beijoooooooooooooooooooooos
Todo mundo procurando um pedreiro e um carpinteiro bons. Babau! Acabou-se o que era doce, como dizia minha mãe.
Não encontramos mais à porta esses profissionais. Dizem que as casas de comércio de materiais de construção, hoje, venderiam o dobro se eles existissem como antigamente.
Conheci o Miami Dadde Community College, quando, em 1987, fui fazer lá uma exposição de pintura. Naquela semana, receberiam cantores brasileiros, Gil, etc. Isso para os alunos e para os familiares. Quanta gente estudando quanta coisa!!!!
Tem a ver com o que a Fla´via diz:
"
Para entender o sistema, no entanto, é bom considerar sua pluralidade – nem todo estudante americano, por exemplo, frequenta as chamadas Ivy Leagues, onde só estuda a elite intelectual americana, egressa de qualquer estrato social, identificada através de um exame nacional seriado, que acontece ao longo do ensino médio. Mas não é por isso que um conjunto grande de alunos não terá um lugar no ensino superior: há uma multiplicidade de tipos de universidades que formam de médicos a tratoristas, passando por pedreiros, encanadores, esteticistas, motoristas de táxi, nos frequentadíssimos Community Colleges, onde, aliás, estão 50% dos universitários americanos."
Genesio Fernandes
Flávia, muito bom!
Beatriz Ferreira.
Esclarecedor. Bartira Barbosa, de Barcelona.
Adorada Ídolo,
que texto maravilhoso. Obrigado pelo momento sublime que proporcionou ao Contagem.
É uma honra ser seu amigo.
Grande beijo, Manoel Affonso de Melo.
Flávia:
As carências são básicas. Ficamos cheios de disfarce. A critica é fundamental.
A educação teima em cair no abismo.
bjs,
Antonio Paulo.
Flávia, já enviei por e-mail, já compartilhei no facebook, já estou discutindo em salas de aula e em salas de professores. Mas nāo é suficiente. Temos que espalhar mais, fazer mais, gritar mais. Seu texto expõe o nó de minha garganta, mas nāo o desfaz. Devemos continuar a divulgá-lo. Beijo, beijo, beijo.
Parabéns, Flávia Suassuna. Com as suas palavras abre-se um clarão neste céu escuro. Tomara que todos os alunos, pais de alunos, professores, gestores públicos possam receber – direta ou indiretamente – pelo menos uma faísca do que foi pontuado nesse belo, mas contundente texto.
Flávia você foi muito feliz em suas reflexões e me fez pensar sobre a inclusão na educação, que é de uma certa forma, cômica, porque fala-se muito de educação inclusiva, mas putz! Toda educação deve ser inclusiva, senão perde o sentido da educação, isso é algo que Paulo freire nos falou a muito tempo atrás e que até hoje ainda é tão primário, não só nas escolas, mas na sociedade em geral que não sabe conviver com as diferenças, ou melhor que discrimina o diferente. Na verdade todos somos diferentes, graças a Deus, e essa diversidade é que nos traz a completude e/ou incompletude! Me pergunto até quando coisas tão simples continuarão sendo tratadas em nossa sociedade com tanta complexidade? Como por exemplo o amor e o cuidado que todas as pessoas sem distinção merecem...
Bem dito:
"E nem percebemos que, num mundo que tem a internet, o saber enciclopédico deixou de ter valor; é melhor ensinar a pensar, julgar, hierarquizar, descartar, analisar..."
Genésio Fernandes
Excelente!!!!
Eu digo a todo mundo que conheço você, que você é minha amiga. Tenho orgulho disso.
Obrigado pelo texto, é maravilhoso.
Beijos, Eduardo Barbosa
Obrigado, Flavinha, por tão inspirado texto. Sugiro que coloques no Facebook, para que possamos divulgar mais fortemente.
Beijos,
Alvino.
Muito bacana Flávia o texto, parabéns!Meu professor mandou o link pelo face, adorei! Concordo com tudo que você disse!
Como prof. de Literatura e como escritor compulsório, fiquei muito feliz em ler teu texto, Flávia. Coeso, bem escrito e com uma clareza argumentativa tal que me faz querer mostrar aos meus alunos. Eu também relutei com o Enem, mas estou cada dia mais convencido de que é um modelo mais interessante [e mais motivador] para os alunos. Os meus, pelo menos, estão gostando do formato das provas.
Já compartilhei por todos os meios que pude e assinei o blog. Abraço.
Flá , mais uma vez você fez uma análise racional e completa de sentimentos de um tema tão crucial p o nosso crescimento. Tb vou compartilhar meu facebook.
Bjo imenso
Paula Germana
Professora Flávia Suassuna, primeiramente vou me apresentar... Fui sua aluna quando ainda cursava o 2 ano do ensino médio(2007). E segundo ano, sabe como é, né? Você não dá a devida importância às coisas que realmente merecem. Vítima dessa total inconsciência "aborrescente", esse ano vou prestar meu quarto vestibular para medicina. Nesses anos de cursinho, você é conduzido por professores, muito mais amadores que professores, diga-se de passagem, que te mostram números, estatísticas, dicas infalíveis, tudo isso como forma de, enfim, impor que só esse tal curso com esse tal método funciona. Nessa noite, vi seu texto sobre o ENEM no "jconline" e simplesmente senti-me invadida por um vazio que não sei explicar. Você não precisou fazer qualquer alusão a propagandas sobre seu curso, muito menos desmoralizar a prova do Enem com o intuito de agradar terceiros. Só foi preciso mostrar, de forma bastante clara, a dramática realidade da educação brasileira. E, como o próprio Fernandinho comentou no seu texto, com as suas palavras abre-se um clarão neste céu escuro. Dessa forma, acabei invadindo seu blog e deliciando-me, impressionando-me e emocionando-me com os seus textos. Incrível a maestria que você tem de transformar palavras em textos de belezas deslumbrantes. Lembrei-me de um momento da sua aula em que você chorou ao ler um texto. Eu estava na sala e pensei: "como pode essa professora chorar por um texto que ela já leu inúmeras vezes?". A resposta é simples, suas aulas não são as mesmas durante a semana. Apesar de ter que ensinar os mesmos assuntos para todas as turmas, você consegue unir, como ninguém, essa loucura de vestibular com uma aula repleta de lições e grandezas para a vida. Que saudade de aulas assim, lindas. Acho que foi esse ano, te vi por Fernandinho, sentada. Exaltei-me para ir ao teu encontro, mas contive-me. Estava até com um texto seu que Marcinho tinha nos falado na aula e eu fui atrás para imprimir, o texto falava sobre felicidade. "Na verdade, nossa tristeza é também estruturante e tem a ver com o que somos lá dentro de nós mesmos, com o enfrentamento e a aceitação de nossos fracassos e defeitos, que são a marca primeira do que conseguimos, na história nossa de cada dia, fazer com o que somos, com o que sonhamos, com o que acertamos, com o que erramos, com o que queríamos mas não pôde ser realizado – até porque não podemos tudo, nem sabemos tudo."
Esse texto me foi de grande valia ano passado. E, sempre que estava triste, relia-o e me confortava de uma forma impressionante. Ao te ver, contive-me, por não saber o que dizer, apenas queria te abraçar e, se posso me apropriar dessa expressão, dizer-te: "sou tua fã". Somente pelas imensas promessas, por comodismo e meras estatísticas, até sem fundamentos, evitei fazer seu curso, pois era absurdo fazer um curso no qual uma professora te leva à construção do saber, a "viajar" na literatura. NÃO HÁ TEMPO! Aos olhos dos práticos, "inapropriado para o vestibular". A dica infalível é simples: decorar o esqueleto da redação e você consegue desenvolver qualquer tema. Que tolice! Não é à toa que essa nova proposta causa tanto desespero a esses engessadores-professores. Por fim, professora Flávia, quero parabenizar-te por escrever esses preciosos textos e disponibilizá-los a todos. Me tornarei, sem dúvidas, uma frequentadora assídua do seu blog, se me permite. E, mais uma vez, parabéns por representar tão bem a educação pífia do nosso país e, portanto, ser uma exceção nesse emaranhado de amadores. Desculpa o desabafo.
Flávia,
Concordo inteiramente com as suas palavras.
Considero o aprendizado da língua portuguesa vital para a obtenção de bons resultados, inclusive nas demais disciplinas, por exemplo, a matemática e as ciências naturais. A leitura deve ser um hábito incentivado já a partir da educação infantil, mesmo antes da alfabetização do aluno. Temos diversas formas para alcançarmos êxito nesse processo: por meio do teatro, de desenhos livres, dos contos de histórias.... Precisamos criar espaços dentro e fora das escolas, com objetivos específicos, visando atrair a criança na aquisição desse hábito. A construção de bibliotecas públicas e privadas aconchegantes e atraentes, livrarias com livros mais baratos e digitalizados.
O problema da aprendizagem, de uma forma geral, está na falta de leitura, que leva à falta de entender o que se está lendo, ou seja, de interpretação daquilo que se está lendo. Precisamos direcionar o processo de aprendizagem, como você definiu muito bem, para o pensar, julgar, hierarquizar, descartar, analisar.... O resto está no Google.
O MEC peca quando foca somente em um dos pilares do ensino-aprendizagem, que é a avaliação. Não estou criticando o ENEM, mas precisamos enxergar esse processo de uma forma global, na sua totalidade, desde uma reformulação curricular nos cursos de formação de professores, passando por uma mudança nos currículos das disciplinas, até o regime integral do aluno na escola.
Flávia, ao mesmo tempo em que às vezes me vejo como um Dom Quixote, encontro forças e vejo que não estou só, principalmente, quando conheço pessoas do seu quilate e da sua envergadura, instigadas e inquietas em continuar a lutar por uma educação de qualidade para as nossas crianças.
Abraço.
Excelente análise, Flávia. Deveria ser colocada na mesa dos que tomam decisões sobre a educação no Brasil.
Flávia, o resultado dessa “confusão” nós podemos observar nos estudantes universitários e, posteriormente, nos profissionais que chegam ao mercado de trabalho com deficiências significativas na sua formação…
Quando puder, escreve algo sobre a legislação que regula a entrada das crianças na alfabetização pela faixa etária. Gostaria de saber sua opinião sobre isso! Obrigada.
Sou sua fanzonaa...te admiro muito queria ter vc como amigaa és uma guerreira
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