sábado, setembro 02, 2006

Jogo de trevas

DAS CENAS OU UM OBSERVADOR MISTERIOSO E INEXISTENTE

IV

O homem aproximou-se da sala de pintura da escola de artes e, procurando, talvez, por alguém, topou sem querer num cavalete com um rascunho ligeiro de uma das alunas, que se retirara temporariamente.
Perturbando-se ao olhar o estudo, rabiscou por cima dele uns versos e se retirou.
O estudo era a tentativa, ainda inacabada, de representação de um homem deitado sobre uma mulher ainda disforme.
O rosto do homem retratado era o do poeta, só que trazia o do quadro uma expressão de beleza e paz que não se encontrava no, ao contrário, perturbadíssimo rosto verdadeiro.
Ao chegar e mirar seu estudo, agora já completado pelo rápido poema, a moça riu simplesmente, deleitada. Achou ela que os novos traços do carvão completavam de maneira absoluta e indiscutível o que gostaria de dizer e, acrescentando alguns traços, fez-se a si própria, então, ainda que enevoada, sob aquele tão definido corpo de homem.
O quadro era, só então, de uma beleza grande e completo – duas almas ali se encontraram e com símbolos belíssimos se entenderam –.
Quem sabe não se fixara aí exatamente a grande beleza do estudo?