sábado, setembro 02, 2006

Jogo de trevas

DOS ESCRITOS DE ANTÔNIO: REFLEXÕES E CONFISSÕES

IV

A pintora não me abandona a mente. Deus! Já não é bastante a dor que a cada dia me envias? Era lá preciso mandar-me, além de tudo, as angústias todas do amor, quando nem mesmo as da vida posso suportar?

Poema à fuga

Louca...
que paras e que copias a alma,
de quem não a quer copiada.
Vai-te embora; quem pensas que és, a transformar meu corpo e a ver almas
onde elas nem existem?
Vai-te embora, deixa-me com a minha cara sem alma
que só quero descanso...
Deixa de perversidade...
Deixa-me os olhos
que, já tão cansados de tantas mudanças,
não agüentam mais
(tantos caminhos por ver!).
Vai-te.

Não fui sincero em tudo o que contei: primeiro, escondi o fato de que o homem do retrato não tinha os olhos batidos pelo vício que aparecem agora, constantemente, a me assustarem. Segundo, não falei da grande beleza que a pintora possui. Não essa comum: é uma beleza rica na pobreza. A simplicidade dos traços do seu rosto se enriquecem de tal maneira do contato de uns com os outros, que lhe dão um ar de bondade e beleza inesquecíveis.