Outro amor e seu tempo - para Ana e Yves
Nesta escuridão,
apenas tocam-se
coisas mortas.
O milagre de ver
não é gratuito:
só um esforço
de luz enxerga
as vestes de folhas
das árvores;
a frescura do vento
invisível
com o enfeite inútil
dos pássaros;
a água do rio
que salva
sem saber;
o mar e suas marés
insistentes;
as auroras,
resumo
do giro mudo
das galáxias...
Assim, não se mede
pelo tempo
nem somente
pelo corpo
(de que é apenas
eco distorcido)
esse amor refeito
no desenho
difícil do milagre,
quando é tarde –
tempo de saber-se
e saciar-se;
de aprender-se
o valor das coisas
repetidas e mínimas,
o sentido
nesse absurdo de existir.
Por isso
este poema
que louva
a teimosia do desejo
no corpo ferido
sem medo, entretanto,
dos combates
já perdidos
que se lutam
no curso
claudicante
do amor.
E a peça luminosa
que se soma
de todo amor
que se luta,
para um mundo corrigido.
8 Comments:
Meu Deus, Flávia. Isso não é um poema. É uma oração. Nem Salomão, com todas as suas vestes, intenções e verve, colocou algo igual nos salmos. Bom domingo. André Resende.
Flávia,
Seu poema discorre com a delicadeza de uma brisa o sentimento que mais move o homem às quimeras e ao elã com a vida: o amor.
Adorei a intensa expressão:
"O mar e suas marés insistentes; as auroras,
resumo do giro mundo das galáxias..."
O amor movimenta e transforma os viventes diante das agruras do cotidiano, mesmo que esse amor seja utopia.
Como afirmou Augusto Boal: o homem deve ter sempre uma utopia que o mova e o anime diante da vida, pois a utopia cria o novo e transforma o mundo. E se aquela utopia virar realidade...não faz mal, cria-se uma nova utopia". Como já foi dito: o que não existe é o que a gente ainda não criou.
Belo poema,
Everton do Egito
Gosto muito do seu estilo literário, pois permite a nós leitores sempre uma nova leitura daquilo que pensávamos já ter lido! Hélio Silvestre
Você é parada! <3
Maly
Belíssimo, minha querida. Teresa Tenório.
Gostei. Paulo Gustavo
Lindoo <3
Sem palavras! Giulia Façanha
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