Poema em prosa sobre o tempo
Nasci em 27 de agosto de 1957, evento biográfico verificável em cartório e de pouca importância para minha prospecção ontológica.
Aliás, só muito recentemente, quando precisei saber o que sou, dei-me conta de que farei 40 anos. Passou um coelho correndo:
- É tarde, é tarde...
Não é tarde. É que joguei o bumerangue do meu eu no ar e me voltou o susto do tempo. Fiquei paralisada de terror.
É preciso calma para entender o que aconteceu. Do novelo do meu eu, puxei dois fios: o do calendário que marcou o meu nascimento e que me escraviza na sua falsidade (?) e o do tecido pulsante de uma verdade em que só eu acredito.
Que correm... Que correm...
O calendário ri de mim, menosprezando minha confusão e meu dilema, mas eu não me importo, senão com o fato de que me faltam palavras para falar do tecido.
Se eu as achar, me vingarei.
Eu era uma vez uma moça que olhava um trem que não parava de passar. Achava o trem bonito, cada vagão de uma cor... Pensava:
- Um arco-íris!
Um dia o trem desgovernou-se e me atropelou.
- Um arco-íris não dói dessa maneira. Isso foi um trem que me quebrou.
E comecei a juntar os pedaços.
Foi nesse dia que nasci e sei que ninguém acredita, embora seja verdade.
O trem continuou seu caminho desrotinado.
Eu, dentro dele, no entanto, fiz um tear com suas entranhas, no qual teço os fios de minha compreensão adversativa.
Não gosto de dizer que busco um tempo perdido para não dar a entender que perdi coisas boas – o que passou não sabe bem.
Minha vingança é saber que o passado já não existe, pois lembrá-lo é diferente do que ele foi, realmente, e aí posso reinventá-lo e gastá-lo de tanto o contar, do jeito que eu quiser.
E cada vez que o contar, mais estarei construindo-o de uma forma diferente, até que ele pare de doer. Porque quero ser feliz (subordinada sem principal?).
O futuro é uma expectativa dessa felicidade, apenas. Um rio grávido de prazer. E eu o farei. Como?
No hoje. Naquilo que só existe largo como o mar e enfim respiro sem parar. Do trem faço um barco, cujo leme está em minha mão e, pela primeira vez, cuido do rumo da minha vida.
Assim que descobrir tudo que quero, terei destruído o destino selado de silêncio de que fui forjada e serei eu mesma, construída no fio de minha palavra.
Aliás, só muito recentemente, quando precisei saber o que sou, dei-me conta de que farei 40 anos. Passou um coelho correndo:
- É tarde, é tarde...
Não é tarde. É que joguei o bumerangue do meu eu no ar e me voltou o susto do tempo. Fiquei paralisada de terror.
É preciso calma para entender o que aconteceu. Do novelo do meu eu, puxei dois fios: o do calendário que marcou o meu nascimento e que me escraviza na sua falsidade (?) e o do tecido pulsante de uma verdade em que só eu acredito.
Que correm... Que correm...
O calendário ri de mim, menosprezando minha confusão e meu dilema, mas eu não me importo, senão com o fato de que me faltam palavras para falar do tecido.
Se eu as achar, me vingarei.
Eu era uma vez uma moça que olhava um trem que não parava de passar. Achava o trem bonito, cada vagão de uma cor... Pensava:
- Um arco-íris!
Um dia o trem desgovernou-se e me atropelou.
- Um arco-íris não dói dessa maneira. Isso foi um trem que me quebrou.
E comecei a juntar os pedaços.
Foi nesse dia que nasci e sei que ninguém acredita, embora seja verdade.
O trem continuou seu caminho desrotinado.
Eu, dentro dele, no entanto, fiz um tear com suas entranhas, no qual teço os fios de minha compreensão adversativa.
Não gosto de dizer que busco um tempo perdido para não dar a entender que perdi coisas boas – o que passou não sabe bem.
Minha vingança é saber que o passado já não existe, pois lembrá-lo é diferente do que ele foi, realmente, e aí posso reinventá-lo e gastá-lo de tanto o contar, do jeito que eu quiser.
E cada vez que o contar, mais estarei construindo-o de uma forma diferente, até que ele pare de doer. Porque quero ser feliz (subordinada sem principal?).
O futuro é uma expectativa dessa felicidade, apenas. Um rio grávido de prazer. E eu o farei. Como?
No hoje. Naquilo que só existe largo como o mar e enfim respiro sem parar. Do trem faço um barco, cujo leme está em minha mão e, pela primeira vez, cuido do rumo da minha vida.
Assim que descobrir tudo que quero, terei destruído o destino selado de silêncio de que fui forjada e serei eu mesma, construída no fio de minha palavra.
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