"O cão sem plumas", de João Cabral de Melo Neto
"O cão sem plumas", de João Cabral de Melo Neto, tematiza o rio Capibaribe que corta a cidade do Recife. É um longo e hermético poema que denuncia não só o estado do rio, mas também a situação de exclusão da população ribeirinha, à margem de tudo.
Para começar a entendê-lo, é preciso saber que seu autor pertence ao Modernismo, estilo de época que se deu, no caso da poesia de que tratamos, na quebra dos elementos da tradição literária do passado - o verso e sua estruturação sintática, a estrofe, a rima e a lógica, ou seja, o autor em questão mostra clara influência do Surrealismo, movimento modernista do começo do século XX que se construiu, na literatura, sobre lapsos e lacunas sintáticas e sobre a quebra da estruturação lógica do pensamento e de sua tradução lingüística equivalente. Advêm daí as comparações algo estranhas que são feitas ao longo do poema e a falta de estruturação linear na sintaxe frasal.
Além disso, as escolhas vocabulares do autor remetem a um objetivismo incontestável que quebra o subjetivismo presente na lírica de tradição romântica. Desse modo, pode-se dizer que João Cabral também objetiva destruir a troca sentimental e emocional que há entre o eu-poético e o leitor na tradição ocidental.
O poema se constrói em duas instâncias geográficas: a da geografia física, que reflete sobre as questões regionais propriamente ditas (a descrição do rio, sua desembocadura, seus mangues e o processo de seu desaguamento no mar), e a da geografia humana, que nos faz pensar não só sobre as condições sociais e econômicas do homem que habita suas margens, mas também sobre o que faz de um homem um homem, ou seja, o poema parte de uma reflexão sobre a região e se completa com outra de caráter mais universal.
Há ainda, para a compreensão do poema, de se relevar uma oposição: a que o autor criou entre as coisas como deveriam ser e as coisas como na realidade se apresentam. Assim, ao falar da água do rio, ele sonha com a água perfeita (a água do copo, a água da chuva azul, a água que se abre aos peixes, a água que teria os enfeites ou as plumas das plantas), ao mesmo tempo em que sofre ao constatar que ela não existe no rio Capibaribe, cuja água tem lodo, ferrugem e lama. Também, ao se referir ao habitante das margens do rio, o autor reflete sobre o que um homem devia ser (sonho e pluma) e se revolta diante da dificuldade de achar, naquele ser, um homem.
Outro ponto que se pode ressaltar é a pertinente análise do meio ambiente, sem isolá-lo das questões humanas - rio e homem são entidades indissociáveis no poema, tão confundidos que não é possível saber onde um começa e outro termina; a pobreza e a negritude do rio é causa da pobreza do homem negro de lama.
Por fim, há um claro posicionamento do poeta no sentido de chamar o leitor à reflexão sobre o fato de que o rio será aquilo que o homem fizer dele, como a ave que conquista o seu vôo, e sobre a sociedade, que transforma o rio num não-rio, o mar num não-mar, o mangue num não-mangue e o homem num não-homem.
Além disso, as escolhas vocabulares do autor remetem a um objetivismo incontestável que quebra o subjetivismo presente na lírica de tradição romântica. Desse modo, pode-se dizer que João Cabral também objetiva destruir a troca sentimental e emocional que há entre o eu-poético e o leitor na tradição ocidental.
O poema se constrói em duas instâncias geográficas: a da geografia física, que reflete sobre as questões regionais propriamente ditas (a descrição do rio, sua desembocadura, seus mangues e o processo de seu desaguamento no mar), e a da geografia humana, que nos faz pensar não só sobre as condições sociais e econômicas do homem que habita suas margens, mas também sobre o que faz de um homem um homem, ou seja, o poema parte de uma reflexão sobre a região e se completa com outra de caráter mais universal.
Há ainda, para a compreensão do poema, de se relevar uma oposição: a que o autor criou entre as coisas como deveriam ser e as coisas como na realidade se apresentam. Assim, ao falar da água do rio, ele sonha com a água perfeita (a água do copo, a água da chuva azul, a água que se abre aos peixes, a água que teria os enfeites ou as plumas das plantas), ao mesmo tempo em que sofre ao constatar que ela não existe no rio Capibaribe, cuja água tem lodo, ferrugem e lama. Também, ao se referir ao habitante das margens do rio, o autor reflete sobre o que um homem devia ser (sonho e pluma) e se revolta diante da dificuldade de achar, naquele ser, um homem.
Outro ponto que se pode ressaltar é a pertinente análise do meio ambiente, sem isolá-lo das questões humanas - rio e homem são entidades indissociáveis no poema, tão confundidos que não é possível saber onde um começa e outro termina; a pobreza e a negritude do rio é causa da pobreza do homem negro de lama.
Por fim, há um claro posicionamento do poeta no sentido de chamar o leitor à reflexão sobre o fato de que o rio será aquilo que o homem fizer dele, como a ave que conquista o seu vôo, e sobre a sociedade, que transforma o rio num não-rio, o mar num não-mar, o mangue num não-mangue e o homem num não-homem.
9 Comments:
Blog gostoso de ler. Vi a indicação em um dos coments do blog do Sama. (www.estruariope.blogspot.com). Se puder, visite tb a minha página de crônicas sobre o cotidiano (www.aquiaa.blogspot.com). Um abraço, Paulo
você está mais e mais que famosa !!! Sama lhe recomendando ! que, alías, ele não faz mais de que a obrigação, ao reconhecer um talento que se equipara ou supera o dele !!!
bjs
muita saudade
A D O R O E S T E P O E M A !!!
E VC COMENTA ELE, COMO QUEM FAZ OUTRO POEMA ...
Voce existe mesmo?
abraço carinhoso
Rosário (vc sabe quem)
olá, parbéns pelo comentário!!!
Amiga professora gostaria de travar mais contato contigo. Sou mestrando em Lestras - URI- Frederico Wesphalen, por favor me amnde seu email.
Meu nome é ADILSON BARBOSA,
conferir curriculum Lattes
adilsonlindo@yahoo.com.br
adierval@hotmail.com
Interessante a análise feita por você a respeito do poema O Cão sem Plumas. Me ajudará bastante pois esta obra é umas das leituras obrigatórias para quem vai prestar o vestibular da Universidade Estadual do Maranhão - (UEMA 2009).
Fico grato
Atenciosamente: Leonardo
Gostei muito do seu comentário, pois me ajudou a entender melhor a poesia, principalmente quando você fala da metáfora, da comparação entre o cão sem plumas e o Rio Capiberibe, e conclui dizendo que o rio será aquilo que o homem fizer dele, "um rio num não-rio; um mar num não-mar", como o mundo amanhã será o que fizermos hoje com ele. Quem já mergulhou num rio de águas verdes cristalinas, da cor das esmeraldas,ou num mar verde-azul transparente, sabe o que o poeta diz quando vê hoje o Rio Tietê e a Baía da Guanabara. Paisagens antes tão belas foram transformadas em cãos sujos, imundos, sem plumas e pestilentos dos quais todos fogem e até o odor repugna.
Posso dizer mais alguma coisa? É que o seu comentário me deu a chave para decifrar a mensagem da poesia. Associando-se o rio ao cachorro, como você sugere, o poeta fala de dois momentos: no primeiro, o rio, como o cão, é o melhor amigo do homem, a ponto de se confundirem, de não poderem viver separados, tal a forma como se ajudam e se completam. No outro momento, o rio perde sua pujança, se transforma agora num cão sujo, imundo, sarnento, sem pêlo, sem plumas, sem ninguém que queira ser seu dono.
Ótima análise. Parabéns!
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