quarta-feira, julho 25, 2007

Solidão

Eu sou esse poço
bom
lá dentro
de mim
e sua solidão
confortável.

Aquela água
serena e fresca,
naquela noite
presa e escura,
constelada de brilhos
nítidos e calados.

Segredo que Deus
ali depôs
para que eu um dia
desvendasse.

E minha ligação
com esse abismo
guarda um tempo parado:
sou o que sou
antes dos relógios.

Que milagre
mantém de pé
esses tijolos molhados?

Ah! O Engenheiro
que o pensou
com suas paredes mágicas
que se sustentam
do absurdo cilíndrico
de sua forma!

E essa água limpa,
lar subterrâneo,
é carga invertida:
minha solidão
me cura.

Sei que há solidões
que doem;
corpos que ardem
de desejos desencontrados;
lágrimas sem ombros;
noites frias;
problemas sem solução;
dor sem analgésico;
enfrentamentos necessários;
queda sem mão...

Esse poço
mistura
dor e consolo.

Sou esse poço
e sua misteriosa arquitetura:
minha água,
macio lençol,
concorda com a física rude
de seus tijolos sobrepostos;
mas, às vezes, discorda
e enfrenta presa
o perigo dos terremotos.

21 Comments:

At 11:53 PM, Blogger Sofia Sampaio said...

Fragmentos.
1.Que linda solidão!
Serena se for escutada e desvendada, fresca porque é o mais puro ser. Está no escuro porque é no escuro que tudo se vê e está presa porque, quem não está? Tem seus brilhos, muitos, nítidos sim, para quem harmoniza sons mudos.
2.Que linda coragem!
Dizer que a solidão é cura não é para todo mundo. É assustador se encontrar... a maioria das pessoas passa a vida toda fugindo de si, com medo de se escutar. Abafam-se os gritos vivendo freneticamente com muita gente, muita festa, muito som... a solidão dá medo, medo de descobrir, medo de verdades, medo de si.
3.Que linda percepção!
É fantástico perceber que a solidão é constante, mas que ela está em uma incansável procura por um complemento, ela busca sua metamorfose, mas todos sabem que ela nunca será uma borboleta. É quando ela se frustra e percebe que não tem asas que ocorrem os tais terremotos. Mas eles logo são enfrentados, ao percebermos que não se precisa de asas para voar.

E afinal, “Que milagre mantém de pé esses tijolos molhados?”

Mas tudo isso já foi belamente dito por você, como sempre! Lindo mesmo! E eu que pensei que esse não ia mais nascer...

Beijos,
Sofia

 
At 10:09 PM, Blogger Samarone Lima said...

Na poesia, a gente também encontra com um pedaço da gente que estava perdido.
Grande beijo,
Samarone

 
At 10:13 PM, Anonymous Anônimo said...

A solidão não é pesadelo.E sim um tijolo a ser usado na libertação dos caos, nos poços da vida.Seguir em diante é copromisso de pessoas como FLÁVIA.Cada palavras suas são fortes e esperançosas, iguais às gotas d´aguas desse poços.bejos.Estou com saudades,até próxima semana.Amo suas aulas,me sinto mais confortavél.Você não é apenas uma professora e sim uma criatura criada pelo criador e por essa pessao(vc)a cada passo dado,na movimentação social

 
At 10:05 PM, Blogger Lua Durand said...

Que lindo o poema, profundo.

Passa algum dia para um café.

Au Revoir

 
At 10:42 PM, Anonymous Anônimo said...

Flávia, lindo!!! Que poço de águas serenas cheias de clareza para as pessoas que te rodeiam, que maravilha é ter você por perto, terei muitas saudades de você e de Debi.
Concordo com a pessoa anônima acima que diz “suas palavras são fortes e esperançosas”.
Bjs e obrigada mais um vez

 
At 12:52 PM, Anonymous Anônimo said...

Flávia, querida,
eu não sei o que você faz com suas poesias, que me toca de forma tão profunda e fico sem saber como me expressar... Sempre que leio uma delas é como se imagens fossem surgindo, concretizando suas palavras. E sabe qual a imagem de hoje? É como um caminho de pedras (tipo aquelas do caminho para Roma, em Asterix e Obelix), só que é noite e o caminho vai sendo iluminado por diamantes, incrustados nessas pedras... Não sei se dá para entender: é a escuridão e a luz de uma jóia preciosa, misturadas... Lindo! lindo! lindo! ...
Outra coisa que estou achando linda é essa troca entre Samarone e você! Fui testemunha de sua descoberta de quem era ele e, agora, vejo ele também lendo você... Que coisa mais linda! Já dizia um querido professor, Adalberto Barreto, que "a gente só reconhece no outro aquilo que conhece em nós mesmos". Acho que vocês se reconhecem e enviam luz para nós todos que também - de uma forma mais humilde e simples - nos reconhecemos em vocês...
Lindo caminho de luz este que vocês trazem para nós... E quero incluir, em toda esta trança, a nossa querida Diretora de Comunicação e Marketing, Débora Suassuna, que também escreve muito bem e foi quem teve a coragem de levar um livro dela para Samarone.
Rosário, 01 08 2007

 
At 7:42 PM, Blogger yuri assis said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 7:51 PM, Blogger yuri assis said...

atualmente, venho preferindo correntezas.
a solidão é necessária e vital, mas sempre há o momento em que o leão tem que sair da jaula. e daí o expandir de horizontes e o doar-se, navegando mares além.
flávia, se puder vá em meu blog.

bjos.

 
At 11:58 AM, Anonymous Anônimo said...

Flááááviaaa...
Criativo, divertido e profundo!
como um poço ;)

Amandinha

 
At 5:13 AM, Anonymous Anônimo said...

Sou sua fa.Fiz cursinho com vc e acho que tb fui sua aluna nas Damas. Lendo "solidao", lembrei-me da sua oratoria em sala de aula. Muito bom era ver aquela professora dividindo sua literatura. Saudades daquela epoca...

 
At 9:35 PM, Blogger Thiago Leite said...

Aprendi e sei que vou aprender muito com a solidão!
e mesmo só..ou com todos e só..o sorriso ainda vem ás vezes..
saudades demais Flávia...
matei um pouquinoh aquele dia..e saiba que sempre é enriquecedor esptar perto de vc!BJOS

 
At 11:13 PM, Anonymous Anônimo said...

Pastorando o tempo, me deparo com uma poeta: Flávia Suassuna, de Recife. É bom demais descobrir gente profunda, sensível, transparente. Sempre quis publicar um poema seu no blog www.razaopoesia.zip.net, mas ficava quieto. Agora ela autorizou. A alegria de encontrar bons poetas é algo que não tem fim. Graças a deus. Acho que tive a mesma alegria quando me deparei com Maria Esther Maciel, poeta mineira. O blog de poesias e tranças da Flávia Suassuna é um misto de muitas coisas.

No Vale das Almas, Flávia, jorra fonte na alegria de todo mundo!

 
At 10:26 PM, Blogger blogdomopi said...

Muito bonito!
"queda sem mão"
=***
me conta dps como foi a entrevista com a moça da seleção da maurício de nassau.

 
At 7:19 PM, Anonymous Anônimo said...

Ao ler o poema senti o frescor dos tijolos molhados, porém firmes, entrar pelas minha narinas.
Parabéns por ter o dom de fazer algo tão difícil e tão sublime: converter sentimentos em palavras.
Beijo da aluna que muito te tem como inspiração.

 
At 3:20 AM, Blogger Samarone Lima said...

Ei, que tal uma postagem nova?
samarone

 
At 10:25 PM, Anonymous Anônimo said...

que merda do carai

 
At 9:11 PM, Anonymous Anônimo said...

Que lindo poema, Flá... realmente, o que é a alma humana, senão um poço? Dor e consolo é o que nunca poderão deixar de existir, um dia talvez decifremos tudo isso, não é? Essas nossas fraquezas... nossa insistência em prosseguir... deve ter algum sentido. Deve ter algo que nos console totalmente das nossas frustrações, porque nem tudo pode ser consolado tão completamente, não é? Às vezes eu navego no mundo dos sonhadores... no mundo "dele", sabe? E eu queria também que fosse tudo diferente... os sentimentos, ah, tantas coisas, enfim, depois conversamos melhor. =)

Eu costumo comentar aqui, mas creio que você não me associe ao nome. Eu sou a menina que conversou ctg na sexta, após a aula do GAME, lembra? Saiba que vc foi fundamental pra meu progresso espiritual, por isso és tão importante pra mim, querida, muito obrigada!!!

Beijos.

 
At 5:35 PM, Anonymous Anônimo said...

Flávia, belo poema!
Beijos.
Paulo Gustavo

 
At 1:41 AM, Anonymous Anônimo said...

Encontrei uma tradução perfeita desse seu belo poema de Vergílio Ferreira e aqui o postarei:

Há Dentro de Nós um Poço

Há dentro de nós um poço. No fundo dele é que estamos, porque está o que é mais nós, o que nos individualiza, a fonte do que nos enriquece no em que somos humanos. E a vida exterior, o assalto do que nos rodeia, o que visa é esse íntimo de nós para o ocupar, o preencher, o esvaziar do que nos pertence e nos faz ser homens. Jamais como hoje esse assalto foi tão violento, jamais como hoje fomos invadidos do que não é nós. É lá nesse fundo que se gera a espiritualidade, a gravidade do sermos, o encantamento da arte. E a nossa luta é terrível, para nos defendermos no último recesso da nossa intimidade. Porque tudo nos expulsa de lá Quando essa intimidade for preenchida pelo exterior, quando a materialidade se nos for depositando dentro, o homem definitivamente terá em nós morrido.

Já há exemplos disso. Um dos mais perfeitos chama-se robot. É invencível pensarmos o que será o homem amanhã. E nenhuma outra imagem se nos impõe com mais força. Mas o que desse visionar mais nos enriquece a alma é que o homem então será possivelmente feliz. Porque ser homem não é ter felicidade mas apenas ser humano. Não há grandeza nenhuma feliz e é decerto por isso que se diz que os felizes não têm história. A única felicidade compatível com a grandeza é a que já não tem esse nome, mesmo que o tenha. Chamemos-lhe apenas compreensão ou aceitação.

Por Alan Gomes Alvino.Aluno e leitor assíduo de seus textos.

 
At 8:02 PM, Anonymous Anônimo said...

Amiga, esse poema é minha cara. Tudo que sinto diante da vida , da dor do existir, da solidão. Muito lindoooooo! Você precisa mostrar essa cara e não esconder pérolas tão valiosas. Sua construção poética é enxuta e diz tudo.
Beijos, Glauce

 
At 3:38 AM, Anonymous hauisd said...

hy

 

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