Terra
A terra
é tudo:
até o mar
é só a terra
afogada...
(O marinheiro
finge amar o mar,
mas só
quando a pisa
alcança o lar).
Há entre a Terra
e o Homem
cuja mão é um dilema
lance de amor
acertado
lance de amor
errado.
Se a alisa
seu arado,
se a fecunda
sua semente,
multiplica-se
em pomares,
hortas,
jardins,
plantações...
Perfumes,
sabores,
cores,
alimentos de toda sorte.
Suas guerras, no entanto,
criam desertos gelados,
estepes molhadas de sangue
infernos de ferro e dores
bem no meio de seu ventre.
Ela perdoa devagar
e suas entranhas feridas
viram seu último berço.
Aí ele enfia cercas
no seu flanco delicado
e a multiplicação
se transforma em prisão
de que não sabe sair.
Mas a Terra tem abismos
que guardam segredos ricos –
pedras e metais preciosos
combustíveis que são surpresas
impossíveis de prever.
Ela perdoa as estacas
e cumpre nas suas dobras
sua oferta de vida.
Sua teima repetida
terminou por ensinar:
nem a Terra se cansa
nem o Homem desiste
e vão errando e acertando
suas bodas difíceis.
O vulcão de seu desejo
cospe volúpias, prazeres...
E dessa cópula formidável
nasce mais Terra incansável
que se debruça no mar.
7 Comments:
Este comentário foi removido pelo autor.
"nem a Terra se cansa
nem o Homem desiste"
Lembro-me de um texto teu... falava sobre perdoar e esquecer. A terra perdoa, não porque tem motivos, mas sim porque sabe conviver. Ela convive com águas, concretos e pensamentos. Sabe modificar-se, modificando também. É uma perfeita representação de renascimento, de amor, um amor tão cego que enxerga tudo.
"O mundo vai acabar", gritam os loucos, mal sabem que o mundo se refaz, que a terra viva morre todo dia, e nasce outra em seu lugar...
A terra perde o brilho quando esquecem que por baixo ela sempre está, sempre está em tudo, e esse tudo deveria imperar.
A terra é como o homem, imortal. Jogam os dois, mudam os dois... é um abraço interminável, mas todo moldável.
Parabéns! Ficou lindo! Acho "Terra" um tema bem difícil de ser trabalhado... Você, como sempre, conseguiu ver e desenvolver, e não olhar e enganar.
Flavia,
Que surpresa boa me ver listada aqui no seu blog...
Que saudades das aulas de literatura, lá na Escola Parque.
Beijo pra você!
PS- Queria ler de novo um poema seu chamado "Damasco", que trabalhamos numa aula, há quase 20 anos... (vixe). Você lembra? Você tem?
"[...]nem a Terra se cansa
nem o Homem desiste
e vão errando e acertando
suas bodas difíceis.
O vulcão de seu desejo
cospe volúpias, prazeres...
E dessa cópula formidável
nasce mais Terra incansável
que se debruça no mar."
É nessa que o mundo vai...
Acho que assim também nós vamos...
Essas relações confusas,
de desrespeito e dependência.
Enquanto não se descobre o amor e seus frutos.
Beijos,
Leonardo B. B. Siqueira
VIVA A VIDA!
Linda pintura da realidade. Adorei.
Amanda Brandão
Devemos ser terra e homem na vida.Pisar na terra e sentir suas respostas,boas e ruins.Comportar-se como terra é menhor,pois os erros são impossíveis de não cometé-los, e para não nos afogarmos neles é preciso corrigir-los como terra,perdoando-os.Assim sentimos os perfumes,os sabores e vimos as outras cores da pessoas,os lados bons,deixando de mão as imperfeições que tanto desgasta as relações.Nisso você é ótima.
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