Mapa do desejo
“Há sempre um plano B por perto. Ele é o oxigênio
extra que nos leva até a ilha mais próxima em
cuja praia iremos achar uma outra garrafa
com uma carta dentro que acreditamos
ter sido escrita exclusivamente para nós.”
Luis Manoel Siqueira
Luis Manoel Siqueira
Esta carta, mulher,
é para te sossegar.
A juventude passou,
mas teu coração ferido
esconde sua própria cura.
Estou chegando:
não tenho pressa,
como sempre,
nunca é tarde demais.
Posso listar o que te resta:
uma alegria teimosa
como as auroras;
uma vontade
(até grande demais)
de agradar;
uma capacidade delicada
de ouvir;
uma curiosidade incansada
por narrativas;
uma determinação inquebrantável
de prosseguir;
uma beleza mansa;
uma franqueza clara;
um sorriso doce e treloso,
todos lindos de doer.
Adivinho lentamente
cada coisa boa
que ainda me darás.
(Teus raros cabelos brancos
ou tuas rugas,
minha vista cansada
não enxerga.
Há tintas de toda sorte,
não saberei se as usares.
Guarda mais segredo
dessas coisas pequenas
que a todos acometem).
Alisarei teu flanco ferido
até cicatrizar;
aliviarei o peso de tua história;
segurarei teu rosto cansado;
beijarei teus olhos molhados
para que sequem;
abraçarei com jeito
teu corpo machucado;
guardarei em meu ombro
tua cabeça cheirosa;
ruminarei palavras
com minha voz grossa
que só contigo repartirei.
Perderei algumas coisas,
na verdade, sem valor:
minha solidão calada
mais fácil que o diálogo
necessário dos amantes;
minha vontade soberana
de sozinha;
minha quietude estéril
que não valem a pena
de não ter-te.
Ganharei devagar
o segredo do teu desejo:
primeiro permitirás
minha vizinhança;
depois abandonarás
tua prudência
e guiarás minha mão
se ela tardar.
Aí saberei com prazer
o mapa do teu corpo,
conhecerei cada caminho
e seu alvo escondido.
(Tu mesma me darás
a senha que te abre
e serei dentro de ti
como um pensamento).
O comando é teu gemido:
eu me renderei,
estarei satisfeito
e curado de toda solidão
(discutiremos o rumo
na língua inaudível
dos amantes).
Mas se renovará
minha sede
que, mesmo previsto,
teu corpo me motiva
no seu código de surpresas.
Enfim seremos abrigo
bussolado
sem defesa
que não triunfará
a vontade de ser só
mas o desejo de partilha.
é para te sossegar.
A juventude passou,
mas teu coração ferido
esconde sua própria cura.
Estou chegando:
não tenho pressa,
como sempre,
nunca é tarde demais.
Posso listar o que te resta:
uma alegria teimosa
como as auroras;
uma vontade
(até grande demais)
de agradar;
uma capacidade delicada
de ouvir;
uma curiosidade incansada
por narrativas;
uma determinação inquebrantável
de prosseguir;
uma beleza mansa;
uma franqueza clara;
um sorriso doce e treloso,
todos lindos de doer.
Adivinho lentamente
cada coisa boa
que ainda me darás.
(Teus raros cabelos brancos
ou tuas rugas,
minha vista cansada
não enxerga.
Há tintas de toda sorte,
não saberei se as usares.
Guarda mais segredo
dessas coisas pequenas
que a todos acometem).
Alisarei teu flanco ferido
até cicatrizar;
aliviarei o peso de tua história;
segurarei teu rosto cansado;
beijarei teus olhos molhados
para que sequem;
abraçarei com jeito
teu corpo machucado;
guardarei em meu ombro
tua cabeça cheirosa;
ruminarei palavras
com minha voz grossa
que só contigo repartirei.
Perderei algumas coisas,
na verdade, sem valor:
minha solidão calada
mais fácil que o diálogo
necessário dos amantes;
minha vontade soberana
de sozinha;
minha quietude estéril
que não valem a pena
de não ter-te.
Ganharei devagar
o segredo do teu desejo:
primeiro permitirás
minha vizinhança;
depois abandonarás
tua prudência
e guiarás minha mão
se ela tardar.
Aí saberei com prazer
o mapa do teu corpo,
conhecerei cada caminho
e seu alvo escondido.
(Tu mesma me darás
a senha que te abre
e serei dentro de ti
como um pensamento).
O comando é teu gemido:
eu me renderei,
estarei satisfeito
e curado de toda solidão
(discutiremos o rumo
na língua inaudível
dos amantes).
Mas se renovará
minha sede
que, mesmo previsto,
teu corpo me motiva
no seu código de surpresas.
Enfim seremos abrigo
bussolado
sem defesa
que não triunfará
a vontade de ser só
mas o desejo de partilha.
19 Comments:
“Nunca é tarde demais”
Para os que sabem sonhar, nunca é tarde demais... Para os que sabem que a tarde é conhecer mais, saber mais, pensar mais, nunca é tarde demais... Para os que sabem que quanto mais tarde, mais cedo fica, nunca é tarde demais... Para os que sabem que ficar tarde é continuar ficando, nunca é tarde demais ... se não nos perdemos no dia, não tem como sumirmos à noite. Continuamos sendo, seja noite, seja dia, seja cedo, seja tarde...
É difícil, e fácil ao mesmo tempo, imaginar que por trás dessa “franqueza clara” existe também, escondida, uma temida e só, fraqueza. É uma ferida, uma ferida amiga, com a qual você convive e é essa convivência que te faz parecer forte. Faz parecer não, engano meu, que és uma mulher forte todos sabem, o que não imaginam é essa tua vontade de que alguém mais troque teus curativos.
O vento sopra por entre os dedos e leva o tempo consigo, não adianta tentar segurá-lo, o melhor é deixar a mão aberta e esperar que ele derrube alguma coisa pelo caminho... e é isso que esperas.
Esperas do tempo, um abrigo. Um abrigo onde possas se dividir, e se descuidar um pouco de ti... Onde possas encostar uma metade e não ter medo que seja maltratada, ou não vista...Queres dividir alegrias, agrados, silêncios, narrativas, planos, sorrisos, trelas...O desejo é de ser quatro, e não um só. Precisas ser uma parte, ao invés de continuar sendo o todo inteirinho... precisas dividir, partilhar, se aliviar um pouco, distribuindo dores e amores engasgados na tua história.
Vai chegar o conforto, o sossego, o apoio... vai chegar o colo, o ombro, o morno, o olho. O cuidar...
Foste mãe por muito tempo, sempre serás, mas precisas ser mulher, menina... Precisas que a carta da ilha tome forma e cor e se desdobre todinha em forma de gente, esse é o plano B que tens em mente.
Acho que escrevi demais e não cheguei a lugar algum...
Enfim, adorei o poema... Quando leio, penso, quando escrevo me explico para que possa me entender também, parece que te entendes tão bem...será?
Parabéns,
Beijos!
Poema grande, muito melhor do que a epígrafe.
Flávia ...
depois de ler seu poema é preciso um tempo para digerir tanta beleza ... "poema grande", o colega disse; POEMA IMENSO, digo eu: imenso por ir descrevendo tanta beleza, ao correr do lápis e ao sabor do pensamento ... IMENSO, por despertar sentimentos que, poucas vezes, as imagens despertam com tanta intensidade ... IMENSO, porque dá inveja da pessoa privilegiada em quem você se inspirou para escrever tal coisa ...
IMENSO ... tal como sua dona !
Obrigada por compartilhar tanta beleza conosco.
Mas, hoje, quero deixar tambem um recadinho para uma pessoa especial: bonita, discreta, determinada, dedicada ... é aquela pessoa que não se mostra muito para que não vejam o quanto ela é linda ! que é capaz de ficar no anonimato para que outros brilhem ! que é capaz de tudo pelo bem do outro: e estou falando de sua irmã, DÉBORA, que faz aniversário hoje!
PARABÉNS, DÉBORA ! estou aqui, ainda, aguardando seu blog !!!
bjs às duas
Grandioso...
Belo, delicado e forte como quem escreve...
E que essa vida entre assim: como se fosse o Sol desvirginando a madrugada. Queira sentir a dor dessa manhã.
Pois é Fráu... vida nova!
E como a minha irmãzinha falou:
-Nunca é tarde, nunca é demais...
Tanta coisa bonita que esse povo escreveu por aqui que eu tenho até vergonha de "correr o lápis ao sabor do pensamento" tentando analisar de alguma forma esse "filho", que apesar do curto período de gestação, de prematuro não tem nada.
Beijo do seu filho torto.
=D
"Teus raros cabelos brancos
ou tuas rugas,
minha vista cansada
não enxerga."
Lembro-me que falaste isso na classe (lá no CEM)... ah, sim, muito lindo esse poema, adorei lê-lo completo!!
Os comentários aqui são lindos também, vc está cercada de pessoas especiais, assim como vc!! Desekp tudo de bom a ti, Flávia! :)
Beijos!!
Que lindo, que lindo...
Tão doce, tão cadenciado...
Belo!
Acho mesmo que as pessoas mereciam um terceiro livro!
Beijos de seu admirador...
Leonardo B. B. Siqueira
VIVA A VIDA!
Um poema autobibiliográfico digno de não ter sido escrito por voce, exatamente porque consequiste mudar a propria forma de escrita para fazê-lo. (e tambem pois tenho um pouco de preconceito, creio que toda autobibliografia deveria ser feita na primeira pessoa)
mas, nao se esqueça que toda previsão pode dar errado. na verdade, elas sempre dão errado, no minimo em pequenos detalhes, mas geralmente ela muda completamente mesmo.
mas não se preocupe, boas receitas são feitas com receitas completamente alteradas mesmo. (experiencia propria, não?)
ps: quanto á metrica.... creio que o famoso ditado "tamanho não é documento", já diz o bastante, não? ;]
oi Flavinha, se quiser e puder dá uma passadinha no meu blog tbm!
bjo minha kirida
Flá, ontem (domingo) assisti a sua aula de redação e, ouvindo a ti, lembrei-me de um filme que vi sexta-feira a noite, pena que não pude ver o nome dele, mas é baseado em fatos reais; contava a história de um médico que queria transformar a maneira de estudo da medicina e também o modo como os médicos interagem com os pacientes, entendes? Ele destrai seus problemas e tristezas fazendo bem as pessoas, divertindo-as... e se sente bem com isso. Bom, lembrei-me de você porque penso que vc também inova o jeito de dar aulas, faz as pessoas ficarem bem, às vezes em horas difíceis (para ambas), és tão delicada, divertida, meiguinha... a melhor professora de português do mundo!! Quando crescer, quero ser que nem você!! hehehe...
Tudo de bom, Sra. Suassuna! =P
Beijos...
quando eu te leio,me acho!
mais profundo como nunca,maravilhoso. era uma menina tão meiga,que foto linda!!era doida pra te ver quando pequenininha.
beijão
uma cantora chamada björk sugeriria ir para o esconderijo.
é isso, flávia.
buscar o santuário nos braços do outro é interessante e confortador.
o problema sempre é o monópolio de corações que surge a partir daí.
acho lindo esses casais-namorados-amantes-whatever em seus afagos necessitados em tempos de temporais.
mas não acho justo quando isso vira um casulo, uma tenda isolante do mundo.
precisamos viver, precisamos viver. receber o tapa na cara.
tudo bem, flávia, buscar o santuário nos braços do outro é interessante e confortador.
viver dentro deles é morte.
bjos, desse seu aluno que sonha em ser poeta um dia, quem sabe.
Para a efemeridade do tempo o melhor remédio: colhe o dia!
Adorei o texto, e não resisti em comentar.
Abraço,
Bárbara.
Lindo poema...
Na verdade emocionante.
Obrigada...
Amanda Brandão
(aluna de Débora. Por falar nisso, beijos pra ela.)
mais sabedoria que na carta que nos chega, em todas elas inclusive, que na vida são várias, é saber reconhecê-las e ler assim, com uma sensibilidade poética como a tua, pim... em sempre renovado encanto, com sagaz força de luzir de vaga-lume, nem precisa de mais facho de luz, basta o pisca-pisca minúsculo, na aparência, que ele tem... um beijo e um obrigada, por este sempre. Renatinha.
Flávia!! Adorei seu blogger!! os textos são otimos!
beijão.
Tow somente esperando mais postagens que só fazem enriquercer-me...
sempre to enrolado nestas Tranças!!!
bjo grande!
que belo poema, Flávia! imagens raras num ritmo que me prendeu demais.
Cada vez mais apaixonada pelo que você escreve.
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