domingo, julho 16, 2006

Amor e seu tempo – a Arlindo e Neném

A moça e o moço
sabiam um sonho: partir...

Sabiam pouco
mas se escolheram.

O moço trouxe madeira: navio
A moça trouxe tecido: vela
Partiram...

Sem saber
como a viagem é longa
como a viagem é breve
Partiram...

Ela de vestido branco
Ele de paletó e gravata.
Nem olharam...
Nem acenaram...

Começaram a fazer segredos
que todos sabem
e não sabem.

Tiveram filhos,
foram felizes, infelizes,
brigaram com razão, sem razão,
aprenderam o outro
como ninguém: mesquinhez, magnitude,
manias, fraquezas...
Ficaram aflitos juntos
histéricos juntos
doentes juntos
juntos, juntos, juntos...

Trabalharam
Cuidaram
Levantaram cedo
Fatigaram-se
Cada qual de seu modo:
fraldas
café
almoço
jantar
bolo
bife
vitamina
febre
antitérmico...

dinheiro
câmbio
juro
terra
reunião
diretor
chefe
emprego...

Devagar e depressa
os moços começaram
a despedir-se.
Seus pais
suas mães
surgiram
de repente
no espelho.

Como eles
os filhos
sem saber
também partiram...
Trouxeram netos...

Agora eles sabem
a vida, seu preço,
sua pena, seu penhor...

Cá consigo
começariam tudo de novo
juntos!

O amor foi massa de modelar:
paixão, falta, fogo, desejo, ciúme,
desespero, paz, harmonia, cansaço,
paciência, intolerância, silêncio,
dificuldade, plenitude, abrigo...

Tanto viveram juntos,
juntos, juntos
que, hoje, vivem
juntos
a edição melhor de si
que conseguiram
juntos.

Arquivaram
cobranças,
expectativas,
futuro,
passado,
conselhos,
opiniões...

Esse amor de hoje,
ganho não previsto,
é prêmio conquistado
por difícil aprendizado.

É... Amor começa tarde.

2 Comments:

At 1:44 PM, Anonymous Anônimo said...

Flávia, depois que tu leste esse poema na sala não consegui tirar ele da cabeça! Hahahaha. LINDO, LINDO, LINDO. Parabéns! :*

Camila Lins.

 
At 2:31 PM, Blogger Unknown said...

UM DOS MAIS BELOS POEMAS QUE JA LI NOS ULTIMOS TEMPOS

 

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