Bagdad Café e eu
Eu, realmente, sou louca por narrativas. Aliás, para quem não notou ainda, eu vivo delas – sou professora de literatura e amo contar as histórias para meus alunos e para mim mesma mil vezes, nem faço questão... Vou, cada vez, notando detalhes, acrescentando saberes, lembrando do que havia esquecido, vendo de outra forma... Sempre digo a meus alunos que o DNA do século XIX foi a palavra; o do século XX, a imagem. E histórias (em livros ou em filmes) são a minha missão e o meu prazer. De acordo com Rosário, há os que contam e os que ouvem, e eu sou dos que contam. Mas gosto tanto de contar que gosto de ouvir... para depois contar... E há certas histórias que têm, de raspão, algo de nós mesmos... Ai! Como é bom quando uma narrativa nos ajuda a ver não só o que em nós é positivo e merece permanecer, como o que é negativo e carece ser mudado.
Há alguns dias, estava assim de bobeira em casa e chega a minha irmã Débora (a esta altura, a coitada da diretora deste blog) com um filme na mão:
− Eu estava vendo esse filme lá em casa, parei a exibição e vim ver com você, porque a personagem central é a sua cara.
Aí nos sentamos e vimos o filme juntas. Seu título é “Bagdad Café” e a direção é do alemão Percy Adlon. A história é bem linda: uma alemã de nome Jasmin, depois de discutir com o marido, desce do carro no meio do nada e vai parar num lugar esquisito, misto de lanchonete, hospedaria e posto de gasolina, tudo caindo aos pedaços de sujo e velho.
Há um desconforto inicial entre os moradores e a alemã: ela nunca tinha visto pessoas negras e a dona do “negócio” é negra; eles desconfiam de quem quer ficar naquele lugar e, além de tudo, Jasmin carrega uma bagagem estranha (é que, na hora da briga, ela trouxe não a sua mala, mas a do seu marido).
Os personagens são muito charmosos: Brenda, a dona do Bagdad Café, é geniosa e escandalosa, vivia às turras com o marido, que acaba deixando-a, em termos, porque fica por ali, de longe, observando-a com um binóculo e exclamando:
− Oh, Brenda...
Acho que, de forma incompleta, ele pensava em como tudo seria bom, se ela gritasse menos...
O atendente do bar era um índio bonito com quem Brenda também gritava o tempo todo, e sua fuga era deitar-se e dormir numa rede pendurada por ali.
Havia também uma tatuadora meio doida e os filhos de Brenda: o rapaz era pianista, mas a mãe não o deixava tocar, pois achava que ele fazia barulho; e a moça saía o tempo todo com as companhias mais variadas; o que ela não queria mesmo era ficar com a família.
Enfim, estava lá naquele fim de mundo um ex-cinegrafista de Hollywood e pintor em crise, sem saber direito que rumo tomar.
Quando Jasmin chega, logo vai limpando tudo: joga o lixo fora, tira o pó, arruma, lava... Começa a amar, primeiro, o neto de Brenda, que só fazia chorar (e o consola), depois o filho e a filha... E Brenda fica com ciúmes, mas Jasmin é irresistível e acaba por também conquistá-la e adoçá-la...
Aí a gente tem que ampliar os benefícios de Jasmin para entendê-los, porque ela começa a fazer mágicas, uma espécie de espetáculo circense, no bar: fregueses começam a aparecer do nada, o pianista começa a servir para tocar o fundo musical dos números felizes e encantadores, a menina é incorporada ao grupo como ajudante de mágica e até a própria Brenda, tão azeda, fica feliz e mais leve... Aquele lugar tão inóspito, velho e sujo ganha uma vida e um sentido tão fortes, que a tatuadora ensaia ir embora, pois não sabia gostar de felicidade constante... O pintor ganha uma modelo e um porquê, pois Jasmin, tirando, aos poucos, a roupa, vira não só o motivo de suas pinturas, mas também seu caminho, depois que é pedida em casamento. Enfim, Jasmin transforma o Bagdad Café num lugar melhor, onde cada um pode ser feliz como quiser.
O filme é, realmente, lindo, inclusive porque questiona os padrões fechados de beleza e de felicidade, tão comuns e insossos a esta altura, de tão exaustivamente repetidos... Sua estética é meio surrealista, há um bumerangue que aponta uma volta a nós mesmos como roteiro possível... Gostei demais disso...
Mas bom mesmo é alguém achar que sou parecida com Jasmin!...
Há alguns dias, estava assim de bobeira em casa e chega a minha irmã Débora (a esta altura, a coitada da diretora deste blog) com um filme na mão:
− Eu estava vendo esse filme lá em casa, parei a exibição e vim ver com você, porque a personagem central é a sua cara.
Aí nos sentamos e vimos o filme juntas. Seu título é “Bagdad Café” e a direção é do alemão Percy Adlon. A história é bem linda: uma alemã de nome Jasmin, depois de discutir com o marido, desce do carro no meio do nada e vai parar num lugar esquisito, misto de lanchonete, hospedaria e posto de gasolina, tudo caindo aos pedaços de sujo e velho.
Há um desconforto inicial entre os moradores e a alemã: ela nunca tinha visto pessoas negras e a dona do “negócio” é negra; eles desconfiam de quem quer ficar naquele lugar e, além de tudo, Jasmin carrega uma bagagem estranha (é que, na hora da briga, ela trouxe não a sua mala, mas a do seu marido).
Os personagens são muito charmosos: Brenda, a dona do Bagdad Café, é geniosa e escandalosa, vivia às turras com o marido, que acaba deixando-a, em termos, porque fica por ali, de longe, observando-a com um binóculo e exclamando:
− Oh, Brenda...
Acho que, de forma incompleta, ele pensava em como tudo seria bom, se ela gritasse menos...
O atendente do bar era um índio bonito com quem Brenda também gritava o tempo todo, e sua fuga era deitar-se e dormir numa rede pendurada por ali.
Havia também uma tatuadora meio doida e os filhos de Brenda: o rapaz era pianista, mas a mãe não o deixava tocar, pois achava que ele fazia barulho; e a moça saía o tempo todo com as companhias mais variadas; o que ela não queria mesmo era ficar com a família.
Enfim, estava lá naquele fim de mundo um ex-cinegrafista de Hollywood e pintor em crise, sem saber direito que rumo tomar.
Quando Jasmin chega, logo vai limpando tudo: joga o lixo fora, tira o pó, arruma, lava... Começa a amar, primeiro, o neto de Brenda, que só fazia chorar (e o consola), depois o filho e a filha... E Brenda fica com ciúmes, mas Jasmin é irresistível e acaba por também conquistá-la e adoçá-la...
Aí a gente tem que ampliar os benefícios de Jasmin para entendê-los, porque ela começa a fazer mágicas, uma espécie de espetáculo circense, no bar: fregueses começam a aparecer do nada, o pianista começa a servir para tocar o fundo musical dos números felizes e encantadores, a menina é incorporada ao grupo como ajudante de mágica e até a própria Brenda, tão azeda, fica feliz e mais leve... Aquele lugar tão inóspito, velho e sujo ganha uma vida e um sentido tão fortes, que a tatuadora ensaia ir embora, pois não sabia gostar de felicidade constante... O pintor ganha uma modelo e um porquê, pois Jasmin, tirando, aos poucos, a roupa, vira não só o motivo de suas pinturas, mas também seu caminho, depois que é pedida em casamento. Enfim, Jasmin transforma o Bagdad Café num lugar melhor, onde cada um pode ser feliz como quiser.
O filme é, realmente, lindo, inclusive porque questiona os padrões fechados de beleza e de felicidade, tão comuns e insossos a esta altura, de tão exaustivamente repetidos... Sua estética é meio surrealista, há um bumerangue que aponta uma volta a nós mesmos como roteiro possível... Gostei demais disso...
Mas bom mesmo é alguém achar que sou parecida com Jasmin!...
11 Comments:
Pois é, pelo que li, mesmo sem ter visto o filme, você se parece com Jasmin, Flávia..
Esbanjando alegria e tentando arrumar e explicar as coisas, por onde passa!
Minha amiga, eu acho que Jasmim é que se parece com você.E ela deveria ficar profundamente orgulhosa por isso.
Beijo, Fernanda Bérgamo.
Querida Flávia
este era um dos filmes que estava planejando assitir com vocês, exatamente porque você tem a sutileza, a coragem, a reserva, o poder de transformação, de criação, de adoçar a vida, de ousar !
Enfim, você é irressistível e torna melhor o que e quem está à sua volta.
E concordo com Fernanda: Jasmim é que foi inspirada em você !
bjs e saudades
Rosário
Desde que eu entrei no curso de V&F e comecei a escutar você, Flávia, falar e mudei muitos conceitos e métodos na minha vida e nos meus atos.
Acho que transformar a opinião dos seus alunos para melhor é algo que te faz parecida com Jasmin.
abração professora
Realmente, você é uma Jasmin na vida dos teus alunos.Através das associações de palavras e de imagens que você faz em sala é mais fácil refletir sobre o nosso papel de humano.Sua irmã não errou quanto á comparação.Transformação,mudança e aprimoramento são peças chaves de seu dicionário da vida.Repito,torne mais amplo o acesso de pessoas aos teus pensamentos.Pessoalmente,sexta(19)tinha duas aulas, no mesmo horário,mas eu estava com muito cansado,então resolvi assistir literatura, porque sairia da sala mais tranquilos .Você é masssa, FLÁVIA.bjs e abraços.Paulo.
e quem não acharia!
se tem alguém capaz de arrumar tudo dentro das pessoas, esse alguém é vc! e quem te conhece, e não precisa conhecer muito já se deixa encantar pelas tuas loucuras e risos!
flavinha, eu sou tua aluna, e até robei uma frase que tu vive dizendo pra gente pra descrever quem sou eu.. pois é, é fácil se identificar com as coisas que tu diz na sala, parece até que vc sabe dos segredos de cada um e tá falando particulamente pra gente, é uma graça!
beijos
Hehehehe... Interessante, adorei! É que no momento só estou tendo acesso a internet em lan houses e não sei se acharei esse filme pra locar por perto de casa, mas farei o possível pra vê-lo algum dia. Eu gostei da parte da tatuadora, acho que eu pareço com ela!! rsrsrs... É que eu NÃO CONSIGO querer ficar com a família, acredite, eu tento de tudo, mas tudo parece melhor do que está no meio da minha!! Aliás, que qualquer família, é algo muito... Estranho? Não sei, é simplesmente algo muito.
Ahhh, fazia tempo que eu não aparecia aqui, né? Mas quem tarda não falha!! (hã?!?! hahaha)
Pois é, linda Jasmin, tenha ótimos dias e trate de responder meu e-mail, hein? Ora, ora!! Heheheh... brincadeirinha, entendo que és muito ocupada, não tem pressa, viu? :P
Beijos!!!
Este comentário foi removido pelo autor.
Flávia, querida
recebi um e mail de minha amiga que me indicou Samarone e ela disse que sempre comprava os livros indicados por ele. Agora ela disse que vai assistir Bagdad Café por sua reflexão sobre ele e vai terminar comprando os livros que vc indica, já pensou? Você está mesmo influenciando a vida de muita gente!
Lembro do que Flávia fala na sala de aula “eu sou boa em ressuscitar " isso mesmo, você consegue ressuscitar e muda a forma de pensar das pessoas que passam por você.
As meninas têm razão, Jasmim parece com você!!!
Há! Vou assistir o filme para matar saudades suas
Bjs minha querida
Ixi!
faz tempo que num apreço aki..e lendo num podia deixar de comentar sobre o "Bagdad Café"
Ah..bem q poderia ter um destes aki!
Adoraria conhecer a Fl´via-Jasmim! Ou já a conheço sim!
A Jasmim encanta tbm
e é adorável!
poiss...o filme muito lindo por sinal! Tu esqueceu de comentar da música da Jeveta Steele, chamada "Calling you" que é o tema do filme do começo ao fim! Escuto a música e só me vem brenda e Jasmim no filme!
tenho até o DVD!
Flavinha , saudades imensaas!
Bjoo do teu eterno aluno
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