sábado, junho 02, 2007

Terra

A terra
é tudo:
até o mar
é só a terra
afogada...
(O marinheiro
finge amar o mar,
mas só
quando a pisa
alcança o lar).

Há entre a Terra
e o Homem
cuja mão é um dilema
lance de amor
acertado
lance de amor
errado.

Se a alisa
seu arado,
se a fecunda
sua semente,
multiplica-se
em pomares,
hortas,
jardins,
plantações...

Perfumes,
sabores,
cores,
alimentos de toda sorte.

Suas guerras, no entanto,
criam desertos gelados,
estepes molhadas de sangue
infernos de ferro e dores
bem no meio de seu ventre.

Ela perdoa devagar
e suas entranhas feridas
viram seu último berço.

Aí ele enfia cercas
no seu flanco delicado
e a multiplicação
se transforma em prisão
de que não sabe sair.

Mas a Terra tem abismos
que guardam segredos ricos –
pedras e metais preciosos
combustíveis que são surpresas
impossíveis de prever.

Ela perdoa as estacas
e cumpre nas suas dobras
sua oferta de vida.
Sua teima repetida
terminou por ensinar:
nem a Terra se cansa
nem o Homem desiste
e vão errando e acertando
suas bodas difíceis.

O vulcão de seu desejo
cospe volúpias, prazeres...
E dessa cópula formidável
nasce mais Terra incansável
que se debruça no mar.

7 Comments:

At 7:17 PM, Blogger Sofia Sampaio said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 8:45 PM, Blogger Sofia Sampaio said...

"nem a Terra se cansa
nem o Homem desiste"

Lembro-me de um texto teu... falava sobre perdoar e esquecer. A terra perdoa, não porque tem motivos, mas sim porque sabe conviver. Ela convive com águas, concretos e pensamentos. Sabe modificar-se, modificando também. É uma perfeita representação de renascimento, de amor, um amor tão cego que enxerga tudo.
"O mundo vai acabar", gritam os loucos, mal sabem que o mundo se refaz, que a terra viva morre todo dia, e nasce outra em seu lugar...
A terra perde o brilho quando esquecem que por baixo ela sempre está, sempre está em tudo, e esse tudo deveria imperar.
A terra é como o homem, imortal. Jogam os dois, mudam os dois... é um abraço interminável, mas todo moldável.

Parabéns! Ficou lindo! Acho "Terra" um tema bem difícil de ser trabalhado... Você, como sempre, conseguiu ver e desenvolver, e não olhar e enganar.

 
At 2:28 AM, Blogger Mariana Mesquita said...

Flavia,
Que surpresa boa me ver listada aqui no seu blog...
Que saudades das aulas de literatura, lá na Escola Parque.
Beijo pra você!

 
At 2:29 AM, Blogger Mariana Mesquita said...

PS- Queria ler de novo um poema seu chamado "Damasco", que trabalhamos numa aula, há quase 20 anos... (vixe). Você lembra? Você tem?

 
At 11:01 PM, Anonymous Anônimo said...

"[...]nem a Terra se cansa
nem o Homem desiste
e vão errando e acertando
suas bodas difíceis.

O vulcão de seu desejo
cospe volúpias, prazeres...
E dessa cópula formidável
nasce mais Terra incansável
que se debruça no mar.
"


É nessa que o mundo vai...
Acho que assim também nós vamos...

Essas relações confusas,
de desrespeito e dependência.

Enquanto não se descobre o amor e seus frutos.


Beijos,

Leonardo B. B. Siqueira
VIVA A VIDA!

 
At 1:45 PM, Anonymous Anônimo said...

Linda pintura da realidade. Adorei.

Amanda Brandão

 
At 11:46 PM, Anonymous Anônimo said...

Devemos ser terra e homem na vida.Pisar na terra e sentir suas respostas,boas e ruins.Comportar-se como terra é menhor,pois os erros são impossíveis de não cometé-los, e para não nos afogarmos neles é preciso corrigir-los como terra,perdoando-os.Assim sentimos os perfumes,os sabores e vimos as outras cores da pessoas,os lados bons,deixando de mão as imperfeições que tanto desgasta as relações.Nisso você é ótima.

 

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