Graciliano Ramos
O Movimento Regionalista Nordestino está localizado temporalmente no segundo tempo modernista (1930 – 1945) e caracteriza-se não só pela crítica contundente à estrutura política da região, mas também pela denúncia do determinismo ambiental e climático que completa suas dificuldades.
Sua porta de entrada é a Revolução de 30, que fraturou a economia rural e agrária e toda a sua lógica e transferiu o poder para o universo urbano e mercantil. Em cada estado do Nordeste, um escritor tomou a si a narração do estertor e seus corolários (o coronel, o voto de cabresto, o patriarcalismo, o morador...) e da ascensão de um arcabouço social e econômico novo que substituiria traumaticamente o anterior.
O Nordeste aparece como cenário dessas reflexões, da profundidade das raízes dessas estruturas arcaicas na região as quais potencializam formatações coloniais baseadas no latifúndio e na escravidão.
Graciliano Ramos é a cara de tudo isso: seus três principais romances retratam a tragédia rural sendo substituída pela urbana, num quadro de derrocada do homem em todas as suas dimensões.
“Vidas Secas”, numa narração partida em quadros independentes entre si, retrata o deslocamento de uma família miserável fugindo da seca para abrigar-se numa fazenda abandonada que, na verdade, mostra-se depois como lugar nenhum. Fabiano e Sinhá Vitória, os adultos, não sabem para onde ir, são incapazes de sonhar e de sair da situação em que se encontram. Andam em círculos numa planície avara e sem remédio.
Animalizados pela brutalidade do meio e da estrutura social, não pensam, não entendem, não agem, sendo fantoches sem livre arbítrio. Seus filhos sem nome repetem e parecem eternizar a falta de perspectivas. Por uma triste ironia, o mais humanizado dos personagens é a cachorra Baleia, o único do grupo que se comunica, que se move dentro da lógica de amor e do sonho – o homem desumanizado ao lado de um bicho humanizado... O narrador em terceira pessoa acompanha-os com uma compaixão indisfarçável.
Não é o que acontece com os personagens centrais dos outros dois romances – Paulo Honório e Luís da Silva, que, em primeira pessoa, relatam suas trajetórias sem sentido, mas agora de uma forma diferente: não é que eles estejam perdidos por não saberem como Fabiano; eles sabem aonde vão, porém seguem um caminho errado – não se associam, não se solidarizam; seu materialismo cego os arrasta a um relativismo moral e a um egoísmo desprezíveis; carregam um tamanho poder de negação que parecem possuir um desejo secreto de autodestruição que não se completa e de destruição do outro que tragicamente se realiza.
“Angústia” é o menos social e mais introspectivo de seus textos. O narrador Luís da Silva é um homem falhado em tumulto e desordem de pensamentos. Seus sentimentos, lembranças e projetos perdem-se em delírios e labirintos e o vazio de sua vida parece justificar ou o crime ou a loucura que o vencem.
“São Bernardo” traz no título o nome de uma fazenda, mas o fundamental no livro não é a terra; é Paulo Honório, que se projeta nela, e seus motivos psicológicos. O egoísmo é o traço mais característico desse personagem, a incapacidade mesma para se colocar no lugar do outro. Aí está o aspecto central da obra: o atrito irremediável entre os personagens, a falta de diálogo, a desigualdade, as sombras, as opressões, os castigos e a dor decorrente desse conjunto absurdo de impotências para a humanização das relações sociais. A brutalidade, a grosseria, a injustiça vencem de uma forma tão inegável na fazenda São Bernardo que matam Madalena, a esposa do narrador. A narração de Paulo Honório, no entanto, mesmo sem querer, ressuscita a humanidade tímida e delicada de Madalena que, ao fim, é o grande triunfo do texto?
Sua porta de entrada é a Revolução de 30, que fraturou a economia rural e agrária e toda a sua lógica e transferiu o poder para o universo urbano e mercantil. Em cada estado do Nordeste, um escritor tomou a si a narração do estertor e seus corolários (o coronel, o voto de cabresto, o patriarcalismo, o morador...) e da ascensão de um arcabouço social e econômico novo que substituiria traumaticamente o anterior.
O Nordeste aparece como cenário dessas reflexões, da profundidade das raízes dessas estruturas arcaicas na região as quais potencializam formatações coloniais baseadas no latifúndio e na escravidão.
Graciliano Ramos é a cara de tudo isso: seus três principais romances retratam a tragédia rural sendo substituída pela urbana, num quadro de derrocada do homem em todas as suas dimensões.
“Vidas Secas”, numa narração partida em quadros independentes entre si, retrata o deslocamento de uma família miserável fugindo da seca para abrigar-se numa fazenda abandonada que, na verdade, mostra-se depois como lugar nenhum. Fabiano e Sinhá Vitória, os adultos, não sabem para onde ir, são incapazes de sonhar e de sair da situação em que se encontram. Andam em círculos numa planície avara e sem remédio.
Animalizados pela brutalidade do meio e da estrutura social, não pensam, não entendem, não agem, sendo fantoches sem livre arbítrio. Seus filhos sem nome repetem e parecem eternizar a falta de perspectivas. Por uma triste ironia, o mais humanizado dos personagens é a cachorra Baleia, o único do grupo que se comunica, que se move dentro da lógica de amor e do sonho – o homem desumanizado ao lado de um bicho humanizado... O narrador em terceira pessoa acompanha-os com uma compaixão indisfarçável.
Não é o que acontece com os personagens centrais dos outros dois romances – Paulo Honório e Luís da Silva, que, em primeira pessoa, relatam suas trajetórias sem sentido, mas agora de uma forma diferente: não é que eles estejam perdidos por não saberem como Fabiano; eles sabem aonde vão, porém seguem um caminho errado – não se associam, não se solidarizam; seu materialismo cego os arrasta a um relativismo moral e a um egoísmo desprezíveis; carregam um tamanho poder de negação que parecem possuir um desejo secreto de autodestruição que não se completa e de destruição do outro que tragicamente se realiza.
“Angústia” é o menos social e mais introspectivo de seus textos. O narrador Luís da Silva é um homem falhado em tumulto e desordem de pensamentos. Seus sentimentos, lembranças e projetos perdem-se em delírios e labirintos e o vazio de sua vida parece justificar ou o crime ou a loucura que o vencem.
“São Bernardo” traz no título o nome de uma fazenda, mas o fundamental no livro não é a terra; é Paulo Honório, que se projeta nela, e seus motivos psicológicos. O egoísmo é o traço mais característico desse personagem, a incapacidade mesma para se colocar no lugar do outro. Aí está o aspecto central da obra: o atrito irremediável entre os personagens, a falta de diálogo, a desigualdade, as sombras, as opressões, os castigos e a dor decorrente desse conjunto absurdo de impotências para a humanização das relações sociais. A brutalidade, a grosseria, a injustiça vencem de uma forma tão inegável na fazenda São Bernardo que matam Madalena, a esposa do narrador. A narração de Paulo Honório, no entanto, mesmo sem querer, ressuscita a humanidade tímida e delicada de Madalena que, ao fim, é o grande triunfo do texto?
9 Comments:
Incrível como a sutileza das palavras descreve tao bem o rude Fabiano.
Adoro seus textos.
Adorei também os do Movimento Modernista!
Mas deixa eu tirar a carteira e voce nao pega mais carona viu?
Ria da desgraças dos outros.. ria.
Belíssimos textos!
É uma maravilha estudar literatura assim.
è mesmo ... ler os autores depois de ouvir ou ler algo assim, é compreender com muito mais profundidade ... é sentir o texto ...
sou mesmo fã de carteirinha
bjs
Rosário
por que seus textos têm sempre que ser assim?
são todos tão...
tão...
inexplicavelmente inexplicáveis,
tão prontos para que sejam admirados,
tão perfeitos.
sempre e sempre.
obrigada por ser a professora que mais me dá prazer de estudar literatura com o dom da filosofia.
Sonhei com vocês por estes dias. Saudades das suas aulas, das suas observações. Aprendi muito com você. Um aprendizado que transcendeu a literatura ou a redação. Devo muito da minha formação como pessoa a você.
Fui seu aluno em 1995 e 1996. Consegui entrar em medicina. Hoje estou em SP e tenho dedicado muito do meu tempo a pesquisa oncológica (sobre tudo a pediátrica). Tudo aquilo que faço tem um pouco do que aprendi com você.
Beijos! Saudades!
Mário Henrique
vim deixar um párabéns, pelo existir, pela escrita e pelo teu natal, que já é hoje!
eu vejo muita coerencia!
nas aulas, nos seus textos, na sua vida!!!
sou tão fã!!!!!
adoro
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
você é uma pessoa fantástica.
não consigo descrever o QUANTO me ensinou sobre todos os temas que foi abordado nas suas aulas.
agradeço muito,de coração mesmo.
suas histórias são momentos lindos..é uma lição de vida pra qualquer um.
um grande abraço!
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