sábado, janeiro 10, 2009

A casa

Vista assim de cima,
vencida,
desabitada,
nem mostra o que guardou:
amor
risos e sonhos;
malogros,
medos e dores.

Permanece
inerte,
apesar de tudo que houve.

A casa conta
projetos
desenhos
de muito antes de mim.
Há muito repousa
instalada
num pedaço de chão.

Aquela que fui
se mirou
no lago do jardim,
cujo espelho não guarda
minha imagem de então,
lacrada em algum retrato
sem cor, nem sentido.

As coisas têm um calendário
só delas,
secreto,
parado,
além de tudo que sou:
a casa restará imbatível
mesmo depois que me for.
(pintada de novo
recebe
outro recomeço
inocente).

As coisas,
o que pretendo
com tê-las?
Ganhar seu jeito de ser?
Guardo tudo
um segundo
na palma da minha mão?

As coisas me seduzem
porque quero ser como elas
(e somos como nós mesmos):
o relógio
na parede da casa
está é dentro de mim.

Sou a única que passa
nesse mundo que ficará.

Outras histórias
se contam
dentro da casa
de novo.

As coisas
reinventadas
reinam
incólumes
em seu reino...

Mas tenho
uma pérola sigilosa
na minha ostra
cardíaca:
uma íntima senha
que revela
o sem-sentido
das coisas
e justifica
meu motivo depois...