terça-feira, julho 20, 2021

MINHA CIDADE – para Alda Cabral

Recife flutua

suspenso

na linha equívoca

da água. 

 

Agora, dono

de nova suspensão,

foi interrompido

por esperas

cheias de cautelas. 

 

Seus viadutos

espelham sua face:

morto concreto levantado

com seus porões

de desabrigo e abandono,

lar dos que 

a pressa dos carros não vê. 

O trânsito

foi anulado:

nenhum transeunte

de um desamparo a outro;

nas pontes

nenhuma ligação.

 

Recife foi redesenhado

pelo vazio,

e as sirenes

falam a língua

dessa nova aflição. 

 

A solidão

própria de toda cidade

se redobra,

e os rios

choram a prisão 

de suas margens.

 

Suspensa

a anestesia da pressa,

a ferida da injustiça

arde sem remédio. 

 

Recife encontrará

de novo seu tempo

que flui

entre praças 

e ruas desertas:

sabe que 

o presente e o futuro,

um pelo outro é cerzido.

 

Voltado às auroras,

entenderá

que se nasce

para recomeçar

a cura do talho.