Trigésimo noturno
Essa coisa
das auroras
nem parece
difícil...
Mas esconde
um mecanismo
complexo.
Essa coisa
do giro mudo
dos astros
nem parece
possível...
Mas esconde
uma engrenagem
perfeita.
Essa coisa
da morte
parece custosa...
Mas esconde
outro engate
vital.
Vigésimo nono noturno
O perigo calado
do peixe
é que ele
não vive sem água.
Acontece
que este verso
sabe o truque
da água:
lava tudo
e permite o peixe.
Vigésimo oitavo noturno
A água
vive sem peixe.
Perde
um tanto de si,
é certo.
Mas é capaz
de seguir.
Vigésimo sétimo noturno
O destino do peixe
é ferir a água.
O do barco, também.
Mas a água se recompõe
e sustém
o peixe
e o barco.
Vigésimo sexto noturno
Se sou água,
és peixe.
Sempre tivemos
destino recíproco.
Vigésimo quinto noturno
Tua mão trêmula,
mas exata,
também me feriu.
Não importa.
Vou me inventar
de água
para teu gesto
não valer.